De um hábito cultural tradicional do Oriente a uma prática comum em cada vez mais lares portugueses, tirar os sapatos à porta de casa tornou-se uma tendência com fundamentos sólidos e não apenas espirituais.
Entre a influência das redes sociais e os alertas da comunidade médica, o gesto ganhou nova força sobretudo durante a pandemia da COVID-19, e veio para ficar.
Segundo especialistas, o motivo para o crescimento deste hábito é simples: evitar que a sujidade, os poluentes e os microrganismos do exterior invadam o nosso espaço mais íntimo — o lar.
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“Os sapatos funcionam como esponjas de rua. Acumulam bactérias, toxinas e até vírus, que podem permanecer no ambiente doméstico por dias”, alerta Deolinda Chaves Beça, médica de medicina geral e familiar, como consta na Maxima.
Entre os agentes mais comuns encontrados nas solas dos sapatos estão a Escherichia coli, associada a infeções urinárias, e a Clostridium difficile, responsável por diarreias graves em ambientes hospitalares. E o perigo não termina aí: essas bactérias podem instalar-se em tapetes, carpetes e circular no ar que respiramos, especialmente em casas com pouca ventilação.
Para famílias com bebés ou crianças pequenas, o risco é ainda maior. “O chão, onde os mais novos gatinham e brincam, pode facilmente transformar-se num terreno perigoso”, explica a médica. Evitar sapatos no interior é uma forma eficaz de proteger os mais vulneráveis.
Mas o impacto não se limita à saúde física. Há também um efeito simbólico e psicológico em descalçar-se à entrada de casa. “Esse gesto marca a fronteira entre o mundo exterior e o refúgio pessoal. Representa um momento de pausa, de desaceleração e até de ligação ao lar”, afirma Deolinda Beça.
De acordo com a médica, sim — com algumas precauções. “Para as crianças, o contacto direto com o chão fortalece os músculos dos pés e melhora o equilíbrio. Nos adultos, promove relaxamento e bem-estar.” No entanto, é importante evitar pisos escorregadios ou demasiado frios e garantir sempre a limpeza dos pavimentos.
A solução ideal? Um ponto de equilíbrio. Retirar os sapatos da rua à entrada e optar por andar descalço ou com calçado limpo e reservado apenas ao uso doméstico: como chinelos antiderrapantes, meias com sola de borracha ou sapatos ortopédicos de interior.
Uma sapateira junto à porta pode ser o suficiente para incorporar esta mudança de forma prática e eficaz no quotidiano.
“Descalçar-se à entrada é um gesto de respeito pelo lar, pela saúde e por quem connosco o partilha. É, no fundo, uma forma de transformar o espaço doméstico num lugar mais limpo, seguro e harmonioso — tudo começa com os pés”, conclui a especialista.
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