O novo museu municipal de Montemor-o-Velho, instalado no renovado Convento de Nossa Senhora dos Anjos, foi inaugurado hoje e conta a história de séculos daquela vila do distrito de Coimbra.
“Entendemos que as comunidades que não honram, preservam e não transmitem a sua história são comunidades sem rosto”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal, Emílio Torrão.
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Nessa perspetiva, o município quis dar àquele espaço emblemático uma função de mostrar a história “e a importância que Montemor sempre teve e teimosamente há muita gente que quer ignorar”.
“É a afirmação de Montemor-o-Velho enquanto comunidade e sobretudo um motivo de orgulho para este executivo”, vincou o autarca.
O espaço terá uma lógica evolutiva, que perspetiva alargamentos, sempre com respeito pela estrutura do monumento nacional que o acolhe: “Esta é a primeira abordagem, uma abordagem muito cuidada, tudo o que está aqui é removível e não interfere com o monumento. É um projeto sempre inacabado”.
O claustro do convento traça um compromisso entre o passado e o presente, salientando a importância geográfica de Montemor-o-Velho nas diferentes épocas históricas, do Paleolítico aos Descobrimentos, passando pela presença fenícia, romana e muçulmana nesta região de grande importância marítima e estratégica.
A recuperação do Convento de Nossa Senhora dos Anjos representou um investimento total de cerca de 2,1 milhões de euros, com fundos europeus do programa Portugal 2020, intervenção que integrou obras de recuperação, arranjos da envolvente e instalação do museu propriamente dito.
Na ala do primeiro piso, relativa à história de Montemor-o-Velho, lê-se, à entrada, no espaço dedicado ao municipalismo, que o foral mais antigo atribuído a este concelho do Baixo Mondego foi outorgado em 1212. A visita é acompanhada por frases colocadas nas paredes da autoria do escritor Afonso Duarte, um dos filhos da terra, como a que lembra que daquele território saíram o missionário e explorador Fernão Mendes Pinto e o cantor e poeta Jorge de Montemor: “Só eu cá fiquei por guardador”.
Outro espaço denomina-se Montemor-o-Velho no século XX – Uma Terra em Transformação, seguido de uma referência às gentes oriundas do município, em que se destacam, desde logo, Diogo de Azambuja e Isabel de Urgel, mulher do Infante D. Pedro (século XV), filho de D. João I, dado como “uma das figuras mais notáveis da história medieval portuguesa” e que manteve “uma relação intimista” com aquela região, “onde se manifestaram as suas ideias políticas e projetos reformistas”.
Entre outras personalidades, o mural dedicado às gentes de Montemor-o-Velho inclui o cenógrafo e ilustrador Manuel de Macedo (nascido em 1839), a cantora e atriz do século XIX Esther de Carvalho ou o ciclista Alves Barbosa, falecido em 2018, três vezes vencedor da Volta a Portugal.
Já a ala do mesmo piso do Convento de Nossa Senhora dos Anjos, intitulada “Peregrinações”, que dá nome ao museu municipal, está dividida em três partes, uma sobre Fernão Mendes Pinto, outra sobre a sua peregrinação a territórios orientais (com exibição de uma primeira edição da obra) e a última sobre a visão do Oriente pelos portugueses.
Numa parede com cerca de 20 metros de comprimento estão representados, pelo nome e por ordem alfabética, centenas de lugares que Fernão Mendes Pinto visitou, a maioria em África e na Ásia.
De acordo com informação hoje adiantada à Lusa por fonte da autarquia de Montemor-o-Velho, uma réplica do conjunto escultório de Fernão Mendes Pinto, instalado junto ao Convento de Nossa Senhora dos Anjos, partiu hoje para o Japão, onde será exibida na exposição internacional de Osaka, que decorre até outubro.
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