Região

Especialistas e entidades locais debatem na Lousã os impactes e o controlo da invasão por acácias

Notícias de Coimbra | 22 horas atrás em 11-05-2025

No âmbito da Semana sobre Espécies Invasoras Portugal & España 2025, teve lugar no dia 9 de maio, na Biblioteca Municipal Comendador Montenegro, na Lousã, a sessão de palestras “Invasão da Serra da Lousã por acácias: área invadida, efeitos nos ribeiros e controlo”.

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A iniciativa contou com a presença de especialistas nas áreas da ecologia, geografia e gestão de espécies invasoras que disseminaram entre técnicos, representantes de entidades locais e cidadãos interessados, conhecimentos sobre a expansão das acácias na região, os seus impactes nos ribeiros e algumas estratégias de gestão e controlo.

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Na sessão, Albano Figueiredo, do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território (CEGOT) da Universidade de Coimbra, salientou a importância de compreender os padrões de dispersão das espécies invasoras à escala da paisagem, referindo que “as estruturas em rede como as linhas de água, estradas, linhas de alta tensão, entre outras, são locais preferenciais para a dispersão destas espécies”. Na sua intervenção demonstrou como o “desenho do território pode facilitar a propagação destas espécies exóticas, dificultando o seu controlo”.

Verónica Ferreira, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Universidade de Coimbra, apresentou os efeitos ecológicos da invasão da floresta por acácias nos ribeiros da Serra da Lousã. Alertou para “o aumento nas concentrações de nutrientes na água” em resultado das acácias serem espécies leguminosas e fixarem azoto atmosférico. No entanto, tranquilizou os presentes ao dizer que “as concentrações de nutrientes dissolvidos permanecem ainda baixas e a alteração na qualidade da água não é ainda uma preocupação do ponto de vista do abastecimento”.

A investigadora acrescentou, contudo, que a invasão das florestas por acácias também causa “alterações nas características dos detritos vegetais que entram nos ribeiros, com o pico da entrada a deixar de acontecer no outono/inverno para passar a acontecer no verão, devido à libertação de maior quantidade de folhas de mimosa nessa altura do ano para fazer frente à falta de água e também à produção de vagens.

Disse ainda que, “como a floresta invadida é dominada por mimosa, os detritos vegetais que entram nos ribeiros são menos diversos”. Estas alterações nas características dos detritos vegetais explicam “a diminuição da diversidade de organismos aquáticos e as alterações na reciclagem dos nutrientes” observadas nos ribeiros em florestas invadidas. Na sua intervenção, a investigadora realçou a possibilidade dos ribeiros em floresta invadida “estarem mais vulneráveis a perturbações adicionais como as esperadas num contexto de alterações climáticas” e verem “comprometida a sua capacidade de fornecer água em quantidade e de boa qualidade às populações”.

Elizabete Marchante, da Rede Portuguesa de Estudo e Gestão das Espécies Invasoras (Rede InvECO), abordou a necessidade de se investir em prevenção e deteção precoce da invasão por acácias, alertando para os custos e impactes de não o fazer atempadamente. A título de exemplo, referiu que “foram gastos mais de 30 milhões de euros entre 2000 e 2022 no controlo das acácias em Portugal”, frequentemente em fases da invasão em que o sucesso é já muito difícil.

Sublinhou ainda “os efeitos negativos destas invasoras na biodiversidade, na saúde humana, através do pólen alergénico, e no turismo de natureza, devido à simplificação das paisagens florestais”. Defendeu uma atuação preventiva, argumentando que “por cada euro investido em controlo nas fases iniciais da invasão, podem poupar-se até 100 euros em prejuízos e intervenções futuros”. Ilustrou ainda várias abordagens e técnicas de controlo destas espécies.

Por parte da autarquia local, Ricardo Fernandes, Vereador da Câmara Municipal da Lousã, apelou à criação de uma estratégia nacional robusta, afirmando que “a ação individual de um município é insuficiente sem uma estratégia nacional com fundos adequados para o controlo das acácias”. Destacou ainda o trabalho desenvolvido na Mata do Sobral, onde têm sido realizadas ações de controlo com o envolvimento de diversas entidades e da sociedade civil.

A iniciativa representou um momento de partilha de conhecimento e de articulação entre ciência, gestão local e comunidade, promovendo a sensibilização e o compromisso conjunto para a proteção da Serra da Lousã.

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