Saúde

A depressão tem forma. Como a gordura no corpo está associada ao humor

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 5 horas atrás em 30-04-2025

A depressão, uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, tem sido amplamente estudada sob diversas perspectivas.

Agora, dois novos estudos estão a focar-se numa ligação até agora pouco explorada entre a composição corporal e a saúde mental, destacando o papel crucial da localização da gordura no corpo na formação do nosso humor.

O primeiro estudo, conduzido pela Universidade McMaster, explora a biologia molecular relacionada à gordura e o estresse. A pesquisa, publicada na Nature Metabolism, revela que a gordura abdominal pode ter um papel ativo na resposta ao estresse. Numa série de testes realizados em camundongos, os investigadores observaram que, quando expostos a situações de stress psicológico, o tecido adiposo branco da região abdominal dos animais começou a libertar uma molécula chamada GDF15. Este aumento de GDF15 no sangue causou sinais claros de ansiedade nos camundongos, e a bloquear o receptor dessa substância no cérebro.

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“Este é um novo eixo que nunca foi identificado antes: lipólise, GDF15 e ansiedade”, explica Logan Townsend, líder da pesquisa. A descoberta sugere que o tecido adiposo, especialmente o localizado ao redor do abdómen, tem um papel ativo na regulação das nossas emoções, particularmente sob stress.

Por outro lado, um estudo epidemiológico realizado por Wenjun Gu, publicado no Journal of Affective Disorders, analisou mais de 10.000 adultos nos Estados Unidos. Os pesquisadores investigaram não apenas a quantidade de gordura no corpo, mas também a sua distribuição. Os resultados mostraram que os depósitos de gordura, especialmente na região das pernas, quadris e até na cabeça, estavam mais associados a sintomas de depressão do que a gordura localizada noutras partes do corpo. Esta associação foi mais pronunciada em homens e em indivíduos com IMC abaixo ou acima do peso, sugerindo uma ligação entre a distribuição da gordura e a saúde mental.

“Embora a gordura abdominal seja frequentemente associada a problemas de saúde, a gordura nas extremidades, particularmente nas coxas e quadris, tem uma relação muito mais forte com a depressão”, afirma Wenjun Gu. Esta descoberta levanta questões sobre como os depósitos de gordura podem afetar o humor e o comportamento, embora ainda não se possa afirmar com certeza se a gordura causa a depressão ou vice-versa.

Estes estudos destacam a complexidade da relação entre o corpo e a mente. Especialistas sugerem que a gordura, especialmente quando disfuncional, pode libertar moléculas inflamatórias que alteram o funcionamento do cérebro e influenciam neurotransmissores ligados ao humor. Além disso, hormonas como a leptina e o GDF15, que regulam o metabolismo e o apetite, também podem desempenhar um papel importante.

A relação entre obesidade, estigma social e insatisfação com a imagem corporal também não pode ser ignorada, pois esses fatores podem agravar os sintomas de depressão. “A gordura no corpo, especialmente em certas áreas, pode ser mais do que uma simples reserva de energia. Pode ser um elo importante na saúde mental”, explica o virologista Marc Johnson.

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