A Sé Nova serviu de casa a alguém que está na história da Literatura Portuguesa. O Padre António Vieira viveu 3 anos neste monumento de Coimbra.
O nosso país tem grandes vultos da língua portuguesa. Escritores e poetas que dominavam a palavra com uma facilidade tremenda. Ao longo da nossa história, várias obras-primas foram escritas por verdadeiros talentos que merecem um lugar especial nos manuais de português. Esses criativos da palavra tornaram-se autênticos símbolos da nação.
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O padre António Vieira é seguramente um desses notáveis que realizou uma obra magnífica que lhe garante a eternidade entre os nomes mais emblemáticos da língua portuguesa. Fernando Pessoa, outros dos nomes mais importantes nas Letras, um dia escreveu «A minha pátria é a língua portuguesa».
Ora, o mesmo poeta deve ter considerado o padre António Vieira um verdadeiro patriota. Aliás, chegou mesmo a definir o padre como “o imperador da língua portuguesa”, o que diz bem do respeito que tinha pelo legado do religioso.
O que muitos desconhecem sobre o Padre é que o homem que escreveu Sermão de Santo António aos Peixes viveu na cidade dos estudantes. A Sé Nova serviu de casa a alguém que está na história de da Literatura Portuguesa. O Padre António Vieira viveu 3 anos neste monumento de Coimbra.
O Padre António Vieira nasceu no dia 6 de fevereiro 1608, na Rua dos Cónegos, paredes meias com a Sé de Lisboa. Ele foi filho primogénito de um casal burguês, de Cristóvão Vieira, funcionário da coroa, e de Maria de Azevedo. António partiu com a família para o Brasil ainda em criança, com apenas 7 anos.
António Vieira teve condições privilegiadas para o comum dos mortais da época, pois o seu pai era da baixa nobreza. O seu pai fez essa deslocação ao outro lado do Atlântico com o propósito de assumir o cargo de secretário da Governação.
Primeiro, estudou no colégio jesuíta da Baía. Posteriormente, já em 1623, António Vieira entrou para a Companhia de Jesus. Os jesuítas foram os grandes portadores da cultura e civilização no Brasil, existindo um papel importante dos Padres José de Anchieta e Manuel de Nóbrega.
No colégio da Companhia de Jesus, António Vieira cursou Humanidades e demonstrou dotes excecionais. O jovem António foi ordenado padre em 1634, com apenas 26 anos.
O padre António Vieira tornou-se num comunicador nato. Ele ganhou fama de orador e os seus sermões foram sempre muito elogiados.
A Sé Nova de Coimbra foi a igreja do maior colégio de Coimbra, uma instituição dedicada às onze Mil Virgens, pertencente à Companhia de Jesus. O edifício começou a sua construção em 1547.
Este foi o primeiro colégio jesuítico de sempre. O seu rigor de ensino era elevado e fez escola. Por aqui, passaram vários evangelizadores que pretendiam ensinar a doutrina cristã nos novos mundos conquistados por Portugal.
O Padre António Vieira foi um dos populares evangelizadores que passaram por aqui. Padre António Vieira viveu durante três anos na Sé Nova de Coimbra.
Ele tinha um conhecimento da língua portuguesa notável, um verdadeiro dom. Por isso, facilmente se tornou num especialista na arte da comunicação. O padre jesuíta chegou a integrar uma delegação que veio ao nosso país em 1641 com o propósito de manifestar a D. João IV o apoio do Brasil à Restauração.
Os sermões do Padre António Vieira na capital portuguesa foram um autêntico êxito. A riqueza do conteúdo era evidente. A comunicação era feita com uma linguagem clara e precisa, existindo metáforas pertinentes que ilustravam na perfeição o que o religioso pretendia comunicar.
Os sermões do Padre António comoveram tanto o rei, que o monarca nomeou o Padre António Vieira como pregador da capela real.
O Padre António Viera foi um verdadeiro humanista. Foi jesuíta, pregador e missionário no Brasil, em Portugal e no mundo.
Ele militou pela proteção dos índios, fez uma defesa acérrima dos judeus e defendeu que não se devia distinguir os cristãos novos dos cristãos velhos, isto é, não se deveria diferenciar judeus convertidos e perseguidos pela Inquisição dos católicos tradicionais.
O religioso também se debateu pela abolição da escravatura. A sua personalidade fez com que fosse perseguido pela Inquisição, à qual ele se opôs.
O ‘Sermão de Santo António aos Peixes’ foi uma das suas obras. O sermão foi pregado no Maranhão (Brasil) no dia 13 de junho de 1654, dia de Santo António. Ele defendeu com uma ousadia incomum na época: “Os homens, com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros (…) e os grandes comem os pequenos.”
A metáfora usada pelo religioso visava evidenciar a desumanidade com que os colonos portugueses andavam a tratar os índios. O “Sermão de Santo António aos Peixes” ficou para a história pela coragem do Padre escrever essa visão.
No entanto, os colonos exerceram pressão, levando a que o padre fosse obrigado a regressar a Lisboa, o que aconteceu no ano de 1661.
O regresso do Padre à capital foi infeliz. D. João IV tinha morrido em 1657. Portanto, estava sem proteção. Em 1662, a Inquisição abriu um processo contra ele, acusando o Padre António Vieira de ter opiniões heréticas.
Como o Padre anunciava a ressurreição de D. João IV no livro ‘Quinto Império do Mundo, Esperanças de Portugal’ serviu como pretexto para atuar. Ele foi proibido de pregar e foi condenado à prisão numa das casas dos jesuítas. No ano de 1667, o padre foi salvo na sequência do golpe de Estado de D. Pedro, que destronou o irmão.
O padre António Vieira acabou por partir para Roma. Ele obteve um salvo-conduto de Clemente X que impedia os inquisidores portugueses de incomodarem. O padre tinha 67 anos quando decidiu regressar à capital portuguesa em 1675 com essa proteção papal a garantir a sua segurança.
O Padre António Vieira decidiu regressar ao Brasil e tratou da publicação dos seus sermões. Ele concentrou-se na escrita profética até ao momento da sua morte. O seu último suspiro aconteceu no dia 17 de junho de 1697, na Baía, tinha ele quase 90 anos.
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