O ‘skyrunning’, corrida de resistência em grandes altitudes, vai ganhando praticantes em Portugal, entre os que vão a provas internacionais a quem acha que a forma de estar na modalidade “não é ‘faz’, é para se ir fazendo”.
“‘É pá’, isto foi uma coisa assim do momento, porque eu era uma pessoa obesa, que é mesmo assim. Cheguei a pesar 120 quilos. E ‘pá’, certo dia cheguei a casa e lembrei-me: ‘Vou começar a correr’. E foi. Custou ao início, mas nunca desisti, e pronto. Cheguei onde estou hoje, não sou dos melhores, mas também não sou dos piores”, contou à Lusa Fernando Bastos.
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Aos 40 anos, é uma das caras familiares do curto pelotão dedicado ao ‘skyrunning’ em Portugal, saindo de Semide, em Miranda do Corvo, no distrito de Coimbra, para representar nas corridas o Montanha Clube.
Começou “em finais de 2016”, a correr junto ao sítio onde vive, e uns amigos descobriram da ‘aventura’ e “começaram a desencaminhar, no bom sentido”, para começar a surgir em provas, primeiro de ‘trail’ e outras corridas ‘ultra’, de longa distância (acima dos 42 quilómetros), em que se sente mais à vontade.
Colega de equipa no Montanha, Jorge Filipe tem 23 anos e é da Lousã, tendo encontrado na modalidade uma razão para se federar e participar em provas.
Licenciado em desporto e lazer, escolheu trabalhar como carpinteiro por poder conciliar esta atividade com a rotina de treinos, e os bons resultados já o levaram ao Mundial de jovens de 2021, em Fonte Cerreto, em Itália.
Representar Portugal é “das melhores coisas que um atleta pode ter”, ainda por cima numa vertente que descobriu “recentemente” e na qual destaca “a dificuldade técnica, que exige muito mais, mas também mais atenção, bem como a altimetria”.
“Procuramos provas difíceis para nos superarmos, e aos nossos limites. Para este ano, queria voltar à seleção de jovens, porque será o meu último ano de sub-23. Depois, tentar um ‘top 5’ no Nacional, isso no trail. Tentar fazer mais provas no estrangeiro e dar o meu melhor, evoluir. No fundo, é ser feliz nos trilhos e tentar os melhores resultados”, resumiu.
O jovem corredor vê a modalidade a crescer em Portugal, que em 2021 foi ao bronze no Europeu de seleções, e “a entrada da Louzan Skyrace no circuito mundial trará uma visibilidade enorme para a modalidade”.
Sob a alçada da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), o ‘skyrunning’ vai acolhendo praticantes e entusiastas pelo país, venham do ‘trail’ ou da estrada.
As regras para a definição da corrida como ‘sky’ foram sendo alteradas, para que países como Portugal pudessem ter as provas, dado que o objetivo é que as corridas tivessem “uma média superior a dois mil metros de altitude”, o que em solo nacional, por exemplo, “nem no Pico” seria conseguido.
Assim, neste momento “tem de atingir o ponto mais alto da montanha em que se está a percorrer”, utilizando as cristas das montanhas, e “quanto mais escarpado melhor”, segundo Hugo Rodrigues, da organização da Louzan Skyrace, uma das duas provas lusas do Skyrunner World Series.
No desporto de ‘extreme outdoors’, seja o trail ou o skyrunning, o BTT ou outros, a atividade desportiva alia-se ao turismo, nesta e noutras provas que aproveitam o património natural das serras portuguesas para ‘endurecer’ corridas e conquistar participantes nacionais e internacionais.
No Louzan Skyrace, por exemplo, um trabalho de recolha histórica dos trilhos tradicionais das aldeias serranas, a boa arborização do local e a fauna local, com veados e outros ‘amigos’ do reino animal à espreita dos corredores, fazem parte dos cuidados da organização.
“Trouxe outra visibilidade para a serra, quem vai acaba por ter encontros imediatos com eles [os veados], e gostamos de os ter lá. Temos de arranjar todas as formas para conservar aquilo e para que não haja alguma destruição, que infelizmente anda a acontecer por diversas razões, nomeadamente económicas. Mas também faz parte, os pinheiros têm de ser cortados para nascerem novas árvores”, descreveu Hugo Rodrigues.
O organizador destaca o papel que o clube tem tido na parte ambiental, convidando participantes de corridas a optarem pela plantação de árvores em vez de receberem um brinde, contribuindo para a reflorestação e para a compensação carbónica direta.
Quem beneficia são as populações locais, com melhores árvores, algumas de fruto, e a comunidade em torno da serra, considerando que estas iniciativas, que vão continuar em corridas futuras, têm tido “um grande impacto e bastante adesão”.
“Se calhar, este ano não terão percebido muito bem, mas para a próxima já vão ver, porque é muito simples: ou toda a gente ajuda a contribuir para aquilo lá existir, terem as árvores para correrem à sombra, ou as provas vão deixar de existir”, advertiu.
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