Coimbra

Diogo Cabrita pensa; logo, diverge

Rui Avelar | 3 anos atrás em 21-05-2021

O cirurgião Diogo Cabrita não acaba de ir a Lisboa para falar com Marcelo Rebelo de Sousa, nem com deputados ou ministros. O heterodoxo médico, cuja chegada à capital está prevista para sábado (22), meteu os pés ao caminho, literalmente falando, a fim de pôr um punhado de portugueses a refletir.

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Subtrair o Hospital dos Covões, em Coimbra, a uma fatal secundarização e pôr os portugueses a pensar sobre os riscos da eventual vacinação das crianças contra a covid-19 são os dois desígnios que acabam de motivar o cirurgião Diogo Cabrita para ir a pé a Lisboa.

“O que falta em Portugal é parar e pensar”, alega o médico, em cujo ponto de vista o pensamento se assemelha a “uma bola a descer uma colina”.

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O inconformado Diogo é apologista da generosidade e age ‘fora da caixa’; numa palavra, é um cidadão incapaz de se resignar.

O cirurgião não esconde o seu azedume para com o “mundo da sociedade regulada por normas construídas por gente cinzenta e engravatada a viver em torno dos negócios de consumismo e destruição da natureza e da saúde”.

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No seu registo de inconformismo, Cabrita remete para “uma percentagem enorme de portugueses que não votam, não ligam a televisão e não lêem jornais”. “Possivelmente fazem bem pelo enjoo desencadeado por realidades controladas e geridas para modificar o pensamento”, opina.

“Sou testemunha e enumeraria a quantidade de vezes que vi destruir gente de modo arquitetado para não haver contraditório, não ser permitido espaço de regresso, deixada qualquer flor de fantasia”, assinala o médico ao ser interpelado pelo jornalista.

Bendito bom senso

Ciente de que “o bom senso não se ensina nas universidades”, Diogo Cabrita alerta para “a importância de centrar o pensamento numa acalmia do insulto, num apagamento do incendiário profissional, do provocador militante, dos muitos que aguardam seu quinhão nas matilhas enquanto ferram os quadris dos oponentes”.

Diogo Cabrita – socialista, antigo presidente da Associação Nacional de Jovens  Médicos, de que foi co-fundador a par de Álvaro Beleza – é avesso a “políticas obscurantistas que limitaram a liberdade e reduziram direitos”. Perplexo, Cabrita alude a amigos que não reconhece “na interiorização” por eles feita do “terrorismo de Estado e que foram libertários, libertadores, irreverentes”.

“O desenho mais inconsequente, que não sei pintar, é uma mãe que entrega sua inocente filha para ser inoculada com um produto experimental sem se revoltar”, sintetiza o médico.

De resto, ele tem defendido a vacinação contra o novo coronavírus apenas para as pessoas acima dos 55 anos de idade.

“Os portugueses – que, generosamente, cumpriram com rigor, e até excesso, as medidas da Direção-Geral de Saúde – posicionam-se para a inoculação, autorizada por emergência e, portanto, experimental, sem questionar”, acentua.

Por vezes, faz questão de assinalar, o médico questiona-se sobre “o que teriam dito o Bloco de Esquerda e o PCP se com estas medidas estivesse a governar o Pedro Passos  Coelho”.

“Pensador e radical”

Álvaro Beleza, coordenador da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, sem se pronunciar sobre os desígnios por que se pauta a caminhada do cirurgião, gaba-lhe “a coragem e a frontalidade”.

“O Diogo é um pensador, um artista e um radical; quando tem uma convicção, bate-se por ela até ao fim”, indica Álvaro Beleza.

Enquanto militante do Partido Socialista, Diogo Cabrita candidatou-se, em 2013, à presidência da Câmara Municipal de Valença (Minho) e, no ano seguinte, também se perfilou para a liderança da Comissão Política Concelhia do PS/Coimbra.

Para o médico, o PS em que ele acredita é “de gente que ambiciona um mundo melhor, que trilha o caminho em conjunto e que se amarra na fraternidade e nunca na perseguição”.

Dirigente do PS, Cristina Martins deslocou-se de Coimbra a Fátima, aquando da caminhada do camarada rumo a Lisboa, por uma questão de reconhecimento.

Professora do ensino secundário, ela diz saber que “o mundo seria bem melhor se muitos de nós seguíssemos o exemplo” proporcionado pelo cirurgião. “Fomos – eu e outros camaradas – com a expectativa de que o gesto de Diogo Cabrita possa mudar os erros que a gente dos interesses quer implementar na saúde”.

Conhecida pela sua irreverência, Cristina Martins ergue a voz para “agradecer aos que lutam pela verdade” e para se insurgir contra “os bem-aventurados dos interesses e do desrespeito humano”.

“Estamos a ser coniventes enquanto aceitarmos que um bando de mentirosos continue a negar a eliminação total do Hospital dos Covões”, integrado, durante anos, num centro de que faziam parte outros estabelecimentos, cuja fusão com os antigos Hospitais da Universidade, em 2011, deu lugar à criação do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).

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