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2026: O ano da reprivatização da TAP numa corrida entre gigantes europeus

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 horas atrás em 09-12-2025

O ano de 2026 deverá consolidar o arranque efetivo da reprivatização da TAP, depois de em 2025 terem sido formalizadas três manifestações de interesse por parte de grandes grupos europeus.

O processo entrou numa nova fase após a Parpública confirmar, em 22 de novembro de 2025, ter recebido três manifestações de interesse. A gestora das participações do Estado não especificou os proponentes, mas a Air France-KLM, Lufthansa e o International Airlines Group (IAG) – dono da British Airways e da Iberia – confirmaram ter enviado declarações formais. Embora o concurso tenha sido aberto também a investidores fora da União Europeia (UE), todas as propostas recebidas foram, assim, de operadores europeus.

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Este resultado ocorre após declarações anteriores do ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, que, meses antes, tinha indicado existir mais de uma dúzia de potenciais interessados,incluindo grupos de fora da UE, na compra de participação no capital da TAP.

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Com a triagem inicial concluída, 2026 deve ser o ano em que se desenrolam as etapas centrais do processo: análise das propostas, seleção dos candidatos que passarão à fase seguinte e convite para a entrega das ofertas vinculativas.

O caderno de encargos prevê a venda de uma participação até 44,9%, mantendo-se 5% reservados aos trabalhadores, e abrangendo também a Portugália, a Unidade de Cuidados de Saúde TAP, a Cateringpor e a participação na SPdH (ex-Groundforce)- que presta serviços de assistência em terra.

O objetivo é garantir que o futuro acionista tenha capacidade para investir em toda a estrutura operacional da companhia. Os critérios de elegibilidade definidos incluem receitas superiores a 5.000 milhões de euros num dos últimos três anos, experiência comprovada na aviação, robustez financeira e idoneidade.

Concluída a fase das propostas vinculativas, o que não deverá acontecer antes de março de 2026, a Parpública elaborará um relatório final a submeter ao Governo, que decidirá qual a oferta mais adequada ou se avança para negociações suplementares.

Depois de aprovadas as minutas contratuais, a privatização seguirá para a assembleia-geral da TAP, etapa necessária para formalizar a entrada do novo investidor.

A TAP, fundada em 1945, seguiu durante décadas um percurso marcado por ciclos de crescimento, crise e intervenção pública.

Nacionalizada em 1975, permaneceu sob controlo integral do Estado até às primeiras tentativas de privatização, lançadas em 1991, durante o governo de Cavaco Silva, mas sucessivamente adiadas.

A entrada da Swissair chegou a ser acordada em 1998, mas nunca se concretizou, e novas tentativas voltaram a fracassar no período pós-crise financeira de 2009, incluindo o processo de 2012, travado pela falta de garantias do empresário Germán Efromovich.

A privatização acabaria por avançar apenas em 2015, com a entrada do consórcio Atlantic Gateway, que adquiriu 61% do capital, operação que seria posteriormente revista e parcialmente revertida pelo Governo de António Costa, culminando na renacionalização total durante a pandemia de 2020.

A renacionalização de 2020 não eliminou, porém, as controvérsias em torno do processo da venda ao consórcio liderado por David Neeleman e Humberto Pedrosa. Essa operação continua sob escrutínio.

Em novembro de 2025, a Polícia Judiciária realizou buscas na TAP, na Parpública e no Grupo Barraqueiro [liderado por Humberto Pedrosa], no âmbito de investigações sobre alegados crimes relacionados com a privatização de 2015.

O tema recuperou polémicas analisadas na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP, em 2023, incluindo os chamados “fundos Airbus” – créditos da fabricante aeronáutica associados ao acordo para a renovação da frota e que levantaram dúvidas sobre a sua utilização na capitalização da empresa.

Se o processo mantiver o calendário definido, estando também ainda dependente de aprovação por Bruxelas, 2026 poderá assim tornar-se o ano em que a TAP dá um passo determinante para uma nova configuração acionista, num percurso marcado por décadas de avanços, recuos e mudanças de estratégia quanto ao papel do Estado na companhia aérea.

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