Faz hoje, 17 de junho, oito anos que o inferno desceu sobre a serra. Era uma tarde quente de verão, com o ar pesado e o silêncio estranho que por vezes precede a tragédia.
Em Escalos Fundeiros, Pedrógão Grande, a natureza explodiu em chamas e, em poucas horas, o fogo tomou conta de tudo — de Castanheira de Pera a Figueiró dos Vinhos, de Góis a Pampilhosa da Serra e à Sertã. Em apenas uma hora, 4 459 hectares arderam como se fossem papel.
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O calor era abrasador. As temperaturas ultrapassavam os 40 graus e o vento, impiedoso, espalhava o fogo como fúria. Trovoadas secas, com descargas elétricas, deram o estalo final. O que se seguiu foi dor, desespero e perda.
Naquela fatídica EN236-1, hoje conhecida como a “estrada da morte”, 47 pessoas morreram, umas dentro dos seus carros, apanhadas pela velocidade do fogo. Outras 17 perderam a vida nas imediações. Uma vítima foi atropelada enquanto tentava escapar. No total, 66 vidas foram ceifadas. Havia crianças. Havia idosos. Havia famílias inteiras. 253 pessoas ficaram feridas, sete delas com gravidade.
Cerca de 500 casas foram destruídas, 264 das quais habitações permanentes. 50 empresas viram o seu trabalho e sonhos reduzidos a cinzas, afetando diretamente 400 postos de trabalho. Arderam 53 mil hectares, dos quais 20 mil eram floresta. A paisagem mudou, e com ela, mudaram para sempre os corações de quem lá vive.
A dor não ficou por ali. Vieram as contas: prejuízos na ordem das centenas de milhões de euros, danos na floresta, na agricultura, na indústria e nas estradas. Mas mais do que números, ficaram os silêncios. Os lutos que ainda não acabaram. As memórias que ainda doem.
O país uniu-se. Houve três dias de luto nacional. Mais de 1 700 bombeiros combateram o fogo. Vieram meios de Espanha, França, Marrocos, Itália. E veio também o calor humano: o concerto “Juntos por Todos” encheu o MEO Arena de música, solidariedade e lágrimas, angariando mais de um milhão de euros.
Houve perguntas. E investigações. A causa foi atribuída a uma trovoada seca que atingiu a rede elétrica, mas nunca faltaram dúvidas e polémicas. Onze arguidos foram levados a tribunal. Todos absolvidos em 2022. A justiça, para muitos, continua por fazer.
Em 2023, nasceu o Memorial de Pobrais. Um muro com 115 nomes. Um lago. Plantas. Memória viva junto à estrada onde tudo aconteceu. Um espaço de paz onde antes houve gritos.
Oito anos depois, ainda há feridas abertas. A reconstrução está longe de estar completa. A gestão florestal continua frágil. E em muitas aldeias, o abandono e o medo ficaram como heranças.
Hoje, 17 de junho, não é apenas mais um dia. É um dia para recordar. Para honrar. Para não esquecer. Porque Pedrógão Grande não foi apenas um incêndio. Foi um grito que ecoa até hoje. E é por isso que se diz com o coração apertado: Nunca esquecer. Jamais repetir.
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