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Um espaço seguro para ser transgénero

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 04-06-2022

A comunidade transgénero e não-binária tem em Almada, desde setembro de 2021, um local de apoio e convívio que permite a autodescoberta da sua identidade de género e tem recebido, em média, cinco pessoas por semana.

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O guarda-roupa é um dos primeiros passos na descoberta da identidade. Para a comunidade transgénero e não-binária (que não se identifica com o género que lhe foi designado à nascença), o desafio de encontrar roupa que transmita “conforto interno” começa em casa, muitas vezes com a falta de aceitação da família.

A associação TransMissão oferece uma alternativa. Ao entrar no Espaço Trans (distrito de Setúbal) e virando à esquerda no corredor, encontra-se uma sala com roupa e provadores improvisados à disposição de quem por lá passa.

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“A pessoa pode explorar o seu género, a sua identidade e expressão, sem sentir que tem de esconder a roupa em casa, sem sentir que pode sofrer uma agressão ou violência na família e na rua […]. No Espaço Trans há segurança completa”, diz Laura, em conversa com a Lusa.

Laura identifica-se como pessoa não-binária desde o ano passado, altura em que entrou como membro na associação, mas desde a puberdade que tem sentimentos diferentes em relação ao seu próprio corpo, algo que levou a uma sensação de “desencaixe”.

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“Esse desencaixe deu origem a eu querer uma aceitação e exagerei na minha feminidade durante uns tempos”, afirma.

Laura considera que a TransMissão veio colmatar uma lacuna que havia até à abertura do Espaço Trans: “Faltava muito uma componente de comunidade, de poder ter um sítio em que as pessoas reconhecem que estão seguras, que podem ter a ajuda de que precisam. Isso é um problema muito grande da nossa comunidade, o isolamento e sentirmo-nos muito sozinhos.”

A abertura do Espaço Trans criou uma nova dinâmica na associação. Atividades que antes eram ‘online’ ou noutros locais LGBTQIA+ (relativo a lésbicas, gays, bissexuais, transgénero, ‘queer’, intersexo, assexuais ou outros) hoje são feitas presencialmente no espaço. Uma delas consiste em que pessoas trans sejam modelos, posem e sejam desenhadas de modo a que se conheça a variedade de corpos trans.

“As pessoas acham que trans é quem já fez cirurgia, se é homem trans tem que ter muitos pelos, etc. A comunidade trans tem muitos corpos”, refere Scout, que se identifica como não-binário e faz voluntariado na associação.

“Todos na associação queremos que seja algo normalizado e abolir o corpo ideal. Simplesmente são corpos”, afirma, por seu turno, Seven.

Estagiário na TransMissão, Seven está a acabar a formação em animação sociocultural e pretende criar um grupo de teatro trans como projeto de curso. Rapidamente passou também a membro da associação.

Atualmente, a TransMissão conta com 17 membros e passam pelo espaço, em média, cinco pessoas por semana. As dificuldades na divulgação são um entrave para o desenvolvimento da associação.

Segundo os membros, muitas pessoas desconhecem que não é preciso agendar uma ida ao espaço e há, por outro lado, quem sinta pressão e ansiedade para cumprir uma marcação.

A saúde mental é uma temática importante para a comunidade. Por esse motivo, a TransMissão oferece sessões de “Apoio entre Pares”, normalmente aos domingos, com um psicólogo, também ele trans, a pessoas da comunidade que necessitem.

“Pode ser uma conversa em grupo ou privada. Todas estas coisas que agora é possível fazermos com um espaço físico são muito importantes”, conta Laura.

A TransMissão veio plantar a semente para o crescimento de espaços como este, algo que Seven espera que venha a concretizar-se.

“Queríamos ter um espaço maior ou conseguir ter dois, um aqui em Almada, um em Lisboa ou um no Porto. Como associação ainda somos uma plataforma para além do Espaço. Também organizamos marchas no Porto e em vários pontos de Portugal… mas não temos lá um espaço! Era importante estarmos espalhados”, admite o membro estagiário.

Sacha, fundador da associação, acredita que a importância da TransMissão se fundamenta numa tomada de posição da comunidade.

“A comunidade trans e não-binária é muito vulnerável, costuma ser tratada como um objeto e é muito raramente vista como um sujeito com autonomia, direitos humanos e expressão pública. Era preciso criar um espaço de auto-organização e de empoderamento, e, ao mesmo tempo, estarmos presentes por todo lado onde falam de nós. Nada sobre nós sem nós”, afirma o fundador.

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