Universidade de Coimbra vai contratar mais professores e doutorados!

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 20-09-2017

A Abertura Solene das Aulas na Universidade de Coimbra, cerimónia de grande simbolismo académico que assinala o arranque oficial do ano letivo 2017/2018, teve lugar nesta manhã de 20 setembro, na Sala dos Capelos.

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A cerimónia iniciou-se com o discurso do Reitor, João Gabriel Silva, seguindo-se a intervenção do Presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), Alexandre Amado, e a Oração de Sapiência, proferida por João Sousa Andrade, Professor Catedrático da Faculdade de Economia (FEUC).

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Leia o discurso do Reitor João Gabriel Silva:

Na próxima segunda-feira, 25 de setembro, cumprem-se exatamente 400 anos da morte de Francisco Suárez, grande filósofo e teólogo jesuíta, de nacionalidade espanhola, cujo magistério é um dos momentos altos da Universidade de Coimbra.
Ensinou antes em Segóvia, Valladolid, Roma, Alcalá e Salamanca, mas foi em Coimbra que esteve mais tempo, de 1597 até à sua aposentação em 1615, aos 67 anos. Foi aqui que publicou talvez as suas obras mais importantes: ‘De legibus’, em 1612, e ‘Defensio fidei catholicae’, em 1613. Esta última foi encomendada pelo Papa Paulo V para refutar a visão de alguns reis protestantes, como James I de Inglaterra, que entendiam ter um mandato divino direto. Suárez defendeu algo de radicalmente diferente, quase surpreendente para um tempo de monarquias absolutas: a legitimação do mandato vem do povo, e apenas se mantém enquanto o soberano governa bem. Se governar mal, o povo tem o direito de o substituir, a bem ou à força. Esta sua posição teve tanta importância que os seus livros foram publicamente queimados em Londres. A sua Teoria do Direito, explanada essencialmente no ‘De legibus’, é tão importante que muitos a consideram a origem do Direito Internacional e dos Direitos Humanos, tendo influenciado grandes pensadores posteriores, como Grotius, Descartes, Leibniz, Pufendorf, Adam Smith ou David Ricardo.
Para comemorar esta efeméride dos 400 anos da morte de Francisco Suárez, a Biblioteca Geral acolheu um encontro internacional sobre o tema, em junho passado, ao qual associou uma pequena exposição, com alguns documentos da época, que ainda se pode visitar até ao dia 2 de outubro, no piso intermédio da Biblioteca Joanina.
Igualmente relativa ao papel dos jesuítas de Coimbra, convido-vos a visitar uma outra exposição, desta vez do Museu da Ciência, chamada “Visto de Coimbra”, que será inaugurada na próxima sexta-feira, dia 22, pelas 16:30.
Embora a herança jesuíta seja sentida por muitos como retrógrada, pela sua ancoragem na escolástica, o período em que geriram o Colégio das Artes, de 1555 até à sua expulsão em 1759, foi um período de enorme relevância internacional da Universidade de Coimbra. Ela seria colocada por todos no top 10 dos rankings universitários internacionais, se eles existissem na altura.
Assim se explica que, por volta de 1560, a sede em Roma da Companhia de Jesus tenha encarregado o Colégio das Artes de Coimbra de desenvolver os métodos e os conteúdos a serem seguidos em todos os locais do mundo onde os jesuítas lecionassem. O resultado desse esforço é o “Curso Conimbricense”, publicado entre 1592 e 1606, que consiste num muito detalhado comentário das obras de Aristóteles, que constituíam na altura a base do ensino universitário em toda a Europa.
Este curso foi adotado em todo o universo jesuíta, e muito para além dele. Estudaram por ele filósofos como Descartes, Espinosa, Locke, Leibniz, Hobbes e Peirce. Está bem documentado o seu uso generalizado por toda a Europa, do Atlântico aos Urais. Teve centenas de edições em editoras de toda a Europa, com particular intensidade no espaço alemão. Chegaram a existir versões contrafeitas, tal era a apetência do mundo académico por este curso.
Acima de tudo, estes foram, incontestavelmente, os primeiros manuais universitários de expansão planetária. Todos os volumes foram traduzidos para mandarim, tendo sido profusamente usados para o estudo conjunto da filosofia ocidental, aristotélica, e da filosofia de Confúcio. Todos podem ainda ser compulsados nas bibliotecas em Pequim. Vários foram traduzidos para japonês, entre outros pelo jesuíta Cristovão Ferreira, que ganhou notoriedade mundial recente graças ao filme “Silêncio” de Martin Scorcese. Há notícia de tradução para tamil, na Índia e no Sri Lanka. O uso no Brasil era geral, e frequente na restante América Latina. E muito ainda se desconhece, pois o estudo da sua expansão e influência está ainda por fazer.
A condição de obra de referência deste curso manteve-se até muito tarde. Por exemplo, Karl Marx, na sua dissertação de doutoramento apresentada em Jena em 1839, portanto dois séculos e meio depois da publicação inicial do curso, ainda o considera uma obra de referência para a interpretação de Aristóteles, citando dois dos seus volumes.
O “Curso Conimbricense” foi uma obra decisiva na evolução do pensamento ocidental, e na sua expansão pelo mundo, de que nos devemos orgulhar. O seu valor decorria também do facto de cobrir a maior parte do conhecimento existente na época, numa antecipação da famosa Enciclopédia de Diderot, que surgiu muito mais tarde. A sua estrutura, centrada nos textos de Aristóteles, com comentários parágrafo a parágrafo, quase palavra a palavra, por vezes com longas explicações e elaborações sobre listas de questões suscitadas pelo texto do estagirita, com muitas referências cruzadas, assumiam um formato muito próximo do hipertexto que caracteriza o mundo atual da Internet, também aqui numa antecipação de muitos séculos.
Porém, sendo atualmente o latim dominado por poucos, em particular o difícil e denso latim filosófico em que o “Curso Conimbricense” é escrito, muito poucos estudiosos contemporâneos o conseguem consultar. É assim com enorme satisfação que vos anuncio, em primeira mão, que o olvido da Universidade de Coimbra em relação a esta sua obra maior chegou ao fim. Os nossos colegas Mário Santiago de Carvalho, Sebastião Pinho e Margarida Miranda, a quem deixo já aqui o meu público agradecimento, aceitaram liderar um projeto, que se estima dure dois a três anos, para, com a colaboração de uma vasta equipa, fixar o texto latino de referência, traduzi-lo para português e produzir uma edição bilingue latim-português, em vinte volumes, e ainda editar uma versão na língua franca dos nossos tempos, o inglês. Este projeto, que será financiado pela própria Universidade de Coimbra, sem prejuízo de se procurar financiamento exterior, permitirá projetar, ainda mais, a Universidade de Coimbra, em particular os seus estudos clássicos e humanísticos.
Acima de tudo, ao disponibilizar de novo o “Curso Conimbricense”, estaremos a retomar, por direito próprio, um lugar na primeira fila dos construtores da nossa civilização intelectual, tal como a conhecemos hoje. Reforçaremos a justiça da nossa classificação pela UNESCO como Património da Humanidade, por razões que, para além do enorme valor do património físico, que é inegável, se situam ao nível, muito mais elevado, da conformação do nosso modo de pensar coletivo, da nossa cultura civilizacional. Sem o contributo de Coimbra, o mundo não seria o mesmo.
Este passado tão distinto só nos responsabiliza para futuro. O desafio que temos pela frente é o mesmo do século XVI: produzirmos saber relevante em todo o mundo, que se torne uma referência global. O projeto de reedição do “Curso Conimbricense” também tem essa ambição: disponibilizar aos nossos próprios investigadores uma ferramenta que lhes permitirá concretizar muitas publicações internacionais de grande relevo.
Mas o que me parece mais relevante realçar aqui é que o Colégio das Artes foi escolhido para produzir o curso, e este teve grande sucesso, porque os seus professores eram os melhores de todos. Manuel de Góis, Sebastião do Couto (este com a interessante particularidade de ter nascido em Olivença e morrido a lutar contra os espanhóis, na batalha de Montes Claros, que selou a restauração da independência de Portugal), Baltasar Álvares e Cosme de Magalhães. Nenhum deles era nascido em Coimbra, e todos tinham estudado noutras universidades para além de Coimbra. Francisco Suárez, de quem falei no início, só conheceu Coimbra no final da sua vida.
O critério de escolha dos professores da Universidade de Coimbra tem de ser a mais exigente meritocracia, único garante de uma condição global para o saber produzido. A naturalidade, a nacionalidade, a filiação, a escola cursada, a idade, o género, a religião, a raça, a categoria profissional, a opção política, não são nem podem ser tidos em conta. Só é relevante o mérito nas funções de um professor universitário: investigação, ensino, transmissão de conhecimento para a sociedade, gestão universitária.
O Conselho Geral e o Senado, ao longo dos últimos anos, têm vindo a tomar sucessivas decisões neste sentido. Os mais de 100 concursos de professores atualmente em curso, que constituem o mais elevado volume de contratação na Universidade de Coimbra de há muitos, mesmo muitos anos a esta parte, estão a seguir essa linha de exigência, quer nos critérios de avaliação quer na composição dos júris. Augura-se um futuro de sucessos para a Universidade de Coimbra.
Nos concursos para o pessoal técnico, um corpo também decisivo para a qualidade da Universidade, estão a ser aplicados patamares identicamente elevados.
O mesmo nível de exigência será usado na contratação de doutorados a termo, na sequência da publicação do Decreto-Lei 57/2016 e da subsequente revisão em sede parlamentar. Saúdo, como já fiz muitas vezes, a substituição das bolsas pelos contratos de trabalho como regime normal de contratação de doutorados a termo. Quero igualmente reafirmar que a Universidade de Coimbra aproveitará, ao máximo, o financiamento disponível para este efeito, abrindo todos os concursos que for possível, mas que não transigirá no mérito dos candidatos como critério de escolha em concursos abertos a todos.
Porém também renovo, perante todos vós, o meu intenso protesto contra a incompreensível e inaceitável descriminação negativa que é feita nesta lei contra as instituições de direito público, presenteadas com imensas restrições e dificuldades, enquanto às instituições de direito privado, como as associações privadas sem fins lucrativos, são concedidas inúmeras facilidades. Renovo o desafio que tenho feito em tantos fóruns: que alguém me apresente uma razão válida para esta descriminação contra as instituições de direito público. Ainda não tive resposta de ninguém, quer do Governo, quer da maioria que o apoia, quer da oposição. Neste momento histórico já todos deviam ter percebido que não há progresso científico sem universidades, que as associações privadas só relevam se em estreita associação às universidades, e que as universidades públicas são a espinha dorsal do sistema científico.
Financeiramente, 2017 está a ser um bom ano. Foi possível aumentar o orçamento de funcionamento das faculdades por uns incríveis 45%, em relação a 2016, ano em que já tinha subido 20% em relação ao ano anterior. Este aumento muito elevado das verbas à disposição das faculdades deve-se aos nossos ganhos de eficiência e ao aumento da nossa receita, pois a dotação do Orçamento de Estado cresceu menos que os gastos resultantes de fatores como o fim dos cortes salariais, aumentando a fração de encargos que a Universidade de Coimbra tem de pagar por receita própria.
No Orçamento de Estado para 2018 mantém-se o mesmo padrão. O aumento do salário mínimo e do subsídio de alimentação, a retoma do pagamento das agregações e o descongelamento das progressões salariais, são tudo mudanças muito positivas, mas é essencial que o Governo cumpra o contrato que assinou com as universidades, que determina que todos os aumentos de encargos resultantes de alterações legislativas sejam integralmente cobertos pelo Orçamento de Estado, algo que não está a acontecer. Esperamos que isso ainda seja corrigido, mas uma coisa é já clara: toda a nossa capacidade para investir tem de se basear em receita própria e financiamento competitivo.
Os aumentos de eficiência interna têm sido impressionantes. Conseguimos recuperar muitos milhões de euros de financiamentos antigos, controlar os orçamentos com muito mais precisão, aumentar a velocidade de resposta e o rigor em inúmeros processos, eliminar quase por completo as filas nos serviços académicos. As próximas semanas vão trazer várias novidades muito importantes. Por exemplo, entrou esta semana em funcionamento na estrutura central, e daqui a pouco vai ser alargado a toda a Universidade, um novo sistema para tratamento das deslocações em serviço, desenvolvido diretamente pela administração da Universidade, absolutamente inovador em Portugal, que baixa drasticamente os prazos de resposta nestes processos, colocando- nos solidamente na frente a nível das administrações universitárias. É um sistema de enorme relevância, tendo em conta que por ano processamos quase dez mil deslocações: uma Universidade Global tem de estar presente em todo o mundo, também fisicamente. Em breve darei a toda a comunidade universitária mais detalhes.
Neste início do ano letivo de 2017/18, não posso deixar de realçar dois eventos próximos, de enorme relevância.
Os jogos europeus universitários 2018 vão ser o maior evento multidesportivo de sempre em Portugal, digno de uma Universidade Global. A organização está a decorrer muito bem, com a recuperação do Estádio Universitário a concretizar-se a bom ritmo. O sucesso dos campeonatos europeus universitários de julho passado, de judo, taekwondo e karaté, em excelente colaboração com a Associação Académica de Coimbra e a Federação Académica do Desporto Universitário, dão-nos muita confiança. Tal como nestes campeonatos, cuja receita cobriu totalmente as despesas, também os jogos de 2018 vão ter um orçamento equilibrado, e quero aqui realçar o apoio do Ministério da Educação, através do Instituto Português do Desporto e Juventude. A Universidade de Coimbra e a AAC, com os seus parceiros, vão mostrar ao país como se podem organizar jogos desta dimensão sem gerar qualquer buraco financeiro, deixando todas as estruturas com uso pleno para anos futuros.
Quero aqui relembrar, porque é de inteira justiça fazê-lo, que a iniciativa da candidatura a estes jogos foi da AAC, cuja visão merece ser realçada. Sem o empenho dos estudantes não estaríamos agora nesta situação tão favorável.
O outro evento marcante é a Cimeira Mundial da Saúde intercalar, que terá lugar em Coimbra em abril de 2018. Trará à nossa cidade algumas das mais destacadas figuras mundiais da área da saúde. Resulta de uma colaboração estratégica entre a Universidade e o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, uma parceria que se aprofunda, decisiva que é para ambas as instituições.
Termino com uma forte palavra de incentivo dirigida aos estudantes, particularmente aos recém-chegados. As entradas na Universidade melhoraram este ano, em linha com o pequeno pico demográfico positivo que estamos a atravessar e se manterá no próximo ano. O número de estudantes internacionais aumentou de forma muito relevante. A todos desejo que desfrutem, com trabalho e empenho, de um ambiente de aprendizagem de nível internacional, onde cada vez mais se sente que estamos a refazer o caminho de grande destaque mundial dos tempos do “Curso Conimbricense”.
Bem-vindos à Universidade de Coimbra, uma Universidade Global!

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