Sem gente “não há solução” para o problema dos incêndios

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 25-10-2017

Sem gente que ocupe o território, “não há solução”, não haverá “qualquer resposta eficaz” para o problema dos incêndios, afirmou hoje o reitor da Universidade de Coimbra (UC), João Gabriel Silva.

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“Há três questões-chave que condicionam qualquer resposta eficaz ao problema dos incêndios” e uma delas, que “é a mais difícil”, relaciona-se com a ocupação do território nacional, sem a qual não haverá solução, sustentou o reitor, que falava na sessão de inauguração da Casa das Jurisprudência da Faculdade de Direito da UC, instalado no reabilitado, por cerca de sete milhões de euros, Colégio da Trindade, que estava em ruínas.

“Dentro de cerca de dez anos, imensas aldeias estarão desertas, por já não haver ninguém vivo, por força da idade dos que ainda lá estão”, imensas “vilas estarão como aldeias e imensas cidades como aldeias”, prevê João Gabriel Silva.

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A situação explica-se com o facto de as pessoas terem abandonado “grandes extensões do território”, por não terem emprego e isso só se pode combater com a alteração dos “critérios de decisão coletivos”, defende.

Mas existem outras razões que “condicionam qualquer resposta eficaz ao problema dos incêndios”, na perspetiva do reitor da UC, que – sublinha – não faz “qualquer acusação a este governo”, pois entende que o atual executivo “não tem mais responsabilidade do que os que o precederam, de há muitos anos a esta parte”.

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“É absolutamente necessário que nos adaptemos às alterações climáticas (que já “não são reversíveis, embora possam e devam ser o mais atenuadas possível”), e que, para Portugal, se podem “resumir em quatro palavras: o [deserto do] Saara vem aí”.

A “competência do Estado” para atenuar os efeitos das alterações climáticas, designadamente em relação à gestão da água e da floresta e à transformação da agricultura, da arquitetura e da energia, é, para o reitor, outra razão que dificulta a adoção da solução para o problema dos incêndios.

Sem se “focar no governo, mas nas estruturas intermédias do Estado, onde são tomadas muitas decisões que de facto afetam o dia-a-dia das pessoas”, João Gabriel Silva considera que, desde “muito antes do 25 de Abril, os lugares intermédios do Estado têm sido preenchidos por critérios que nada têm a ver com o mérito”, que tem que passar a ser “o critério efetivo de escolha”.

Sem a adoção desse critério, “não existirá capacidade de adaptação às alterações climáticas, nem de gerir a floresta, nem o território, e o Saara chegará”, adverte João Gabriel Silva, saudando, por isso, “o anúncio feito pelo governo de os lugares da Proteção Civil passarem a ser preenchidos por concurso”.

Mas, alerta, os concursos são, “com facilidade, manipuláveis, se não houver imenso cuidado na sua condução”.

Para vencer a batalha da preservação do território, Portugal tem de ter “uma política ativa da distribuição económica e das estruturas centrais do Estado pelo seu território”, salienta João Gabriel Silva.

O país tem recursos “demasiado limitados” para se poder “dar ao luxo de desperdiçar” 80% do seu território, “concentrando tudo em duas grandes áreas metropolitanas”, e tem de enveredar por “uma política deliberada de distribuir pelo território as estruturas centrais do Estado” e de “distribuir a atividade económica por todo o país”, advoga.

“Só assim, voltará todo o espaço” português a “estar ocupado, a estar devidamente cuidado, a contribuir para a prosperidade do país”, conclui.

Conheça o discurso de João Grabril Silva:

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