Coimbra

Projeto para tornar Mondego mais seguro é “um monte de incertezas”

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 31-01-2020

O projeto do Governo, de 30 milhões de euros, para tornar o rio Mondego mais seguro, é, para os agricultores, um monte de incertezas e um alerta para o eventual aumento do preço da água, que recusam.

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Cerca de duas centenas de agricultores do Baixo Mondego, lesados pelas cheias de dezembro de 2019, reuniram hoje, em Montemor-o-Velho, com dirigentes da Associação Distrital de Agricultores de Coimbra (ADACO) expressando incerteza sobre o plano governamental, anunciado para ser concretizado até 2023.

“Mais do que um plano, é um monte de incertezas. Os agricultores querem saber que diques, que obras, que manutenções se vão fazer mas ainda não há uma definição concreta de nada”, disse à agência Lusa Isménio Oliveira, coordenador da ADACO.

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O responsável associativo disse que, independentemente do que o plano governamental venha a propor, os agricultores “não aceitam aumentos dos preços da água”.

“As celuloses [Navigator e Celbi, que são abastecidas pelo canal de rega do Mondego a exemplo da concessionária de águas da Figueira da Foz e da central de ciclo combinado da EDP de Lares] nunca ganharam tanto dinheiro como nos últimos dois anos. Se for para aumentar, que aumentem a água às celuloses”, argumentou Isménio Oliveira.

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“E não sabemos, para futuro, quem vai ser o gestor da água, esperamos que não sejam as celuloses”, frisou Isménio Oliveira, aludindo ao anunciado 3.º eixo do plano “Mondego Mais Seguro”, que prevê o estudo de um novo modelo de gestão para o sistema, atualmente a cargo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Segundo dados da ADACO, atualmente os agricultores do Mondego, pagam cerca de 85 a 90 euros por hectare (valor que inclui a água das culturas de milho e arroz, que chega aos terrenos por gravidade e a manutenção do sistema de rega). Este valor é um “pouco superior” para quem recebe água por bombagem, nomeadamente na margem esquerda do rio.

Outra questão hoje abordada disse respeito aos prejuízos sofrido nas inundações de dezembro, que a ADACO estima em quatro milhões de euros só no potencial produtivo, enquanto o montante disponibilizado para o restabelecimento daquele pelo ministério da Agricultura via Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020) se cifra em dois milhões de euros, números revelados na reunião.

“O Governo não quer gastar nada em termos orçamentais nestes graves prejuízos, vai buscar tudo às medidas corriqueiras do PDR2020. Nos fogos foi esta mesma medida, mas era uma medida simplificada, não era preciso projeto. Agora, um prejuízo de 5.000 euros é preciso projeto, são 3% para o projeto e quem o faz leva sempre muito mais dinheiro. Há muitos agricultores que desistem e queremos uma medida simplificada porque para situações excecionais, tem de haver medidas excecionais”, defendeu Isménio Oliveira.

Em discussão estiveram ainda outras situações relacionadas com as cheias de dezembro, como a falta de um plano de emergência em ocasiões semelhantes, que junte, às autoridades os beneficiários da obra hidroagrícola ou a falta de limpeza dos leitos de cheia do canal principal do Mondego “que estão cheios de árvores e nunca tiveram manutenção”.

“E depois ninguém sabe quem é que paga a manutenção das infraestruturas, se é a APA, se é a Navigator e os agricultores também querem saber porque é que mais de um mês depois nenhuma entidade com responsabilidades veio ter com eles, nem a APA, nem Câmaras Municipais, nem Proteção Civil”, sustentou o dirigente da ADACO.

Isménio Oliveira adiantou que a ADACO vai agora resumir num documento a reunião de hoje com os agricultores do Baixo Mondego, e pedir reuniões à APA e à diretora dos serviços regionais do ministério da Agricultura.

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