Educação

Programa coordenado por docente da ESEnfC revela que sintomas depressivos nos adolescentes estão mais elevados

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 29-09-2021

O programa de prevenção do suicídio em meio escolar, Mais Contigo, coordenado pelo professor da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) José Carlos Santos, conclui que cerca de 40% dos estudantes avaliados apresenta sintomatologia depressiva, dos quais 28% expõem indícios e manifestações de depressão moderados ou graves.

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José Carlos Santos pede mais atenção para os jovens. “O olhar de proximidade, que as plataformas virtuais não permitem, o escutar sem juízos de valor, a legitimação do sofrimento, é o que pedimos às nossas equipas numa primeira ajuda”.

É este o retrato, hoje dado a conhecer, dos adolescentes avaliados (uma amostra de 436 jovens, com uma média etária de 14 anos), no último ano letivo (2020-2021), no contexto do programa de prevenção de comportamentos suicidários em meio escolar, Mais Contigo. Desta feita, resultado do confinamento, apenas em escolas das zonas de intervenção das administrações regionais de Saúde do Centro, de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve.

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Por sexo, “as adolescentes apresentavam maiores vulnerabilidades, particularmente no bem-estar, autoconceito e sintomatologia depressiva”, que aumentam para todos [rapazes e raparigas] a partir do 7º ano”, revela o coordenador do Mais Contigo e professor de saúde mental na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC), José Carlos Santos, que não tem dúvidas: “Os dados da sintomatologia depressiva são os mais elevados desde que fazemos esta avaliação”, que já é realizada há cerca de uma década.

Para o docente de Coimbra, estes dados são “sinal de preocupação, mas sobretudo da necessidade de programas similares, que identifiquem, intervenham e encaminhem situações de sofrimento mental”.

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Hoje, durante a sessão de abertura do X Encontro Mais Contigo, realizado em formato de webinar, José Carlos Santos afirmou que “os comportamentos autolesivos mais comuns nas nossas escolas passam por uma metacomunicação, centrada no corpo, muitas vezes vivido, mas algumas vezes objeto e tela de todas as ambiguidades, utopias, angústias e, por fim, sofrimento mental tido como insuportável, inevitável e interminável”.

O especialista notou que se verificam “algumas mudanças com comportamentos mais públicos, muitas vezes partilhados nas redes sociais, mais cedo ao nível da idade e, por vezes, na própria escola”.

“O olhar de proximidade, que as plataformas virtuais não permitem, o escutar sem juízos de valor, a legitimação do sofrimento, é o que pedimos às nossas equipas numa primeira ajuda e, nos casos justificados, posterior encaminhamento”, recomendou José Carlos Santos.

O enfermeiro e coordenador do Mais Contigo nota que o trabalho que tem sido desenvolvido “apela a uma maior necessidade de presença de profissionais de saúde mental nas escolas, sejam psicólogos ou enfermeiros de saúde mental, mas também de maior interligação entre a escola e as instituições de saúde”.

“O estigma, os processos de negação, de vergonha, de medo, de incompreensão e de falsos conceitos estão ainda presentes e dificultam intervenções atempadas”, salientou o professor da ESEnfC.

Presente na sessão de abertura do encontro, o diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental (PNSM), Miguel Xavier, referiu que “os números [do Mais Contigo]” e “a capacidade de chegar” a tanta gente “começam a ser impressionantes”.

Para o professor Miguel Xavier, “esperar que sejam os cuidados terapêuticos a resolver” os problemas de saúde mental “é uma falácia”, numa alusão à relevância da prevenção e da intervenção ao nível dos cuidados de saúde primários.

O diretor do PNSM disse mesmo que é “uma questão de primeira prioridade a sustentabilidade deste projeto” e que fará “o possível e o impossível para que o Mais Contigo possa continuar”.

O coordenador do Mais Contigo fez questão de agradecer e de “destacar o papel das instituições proponentes: ESEnfC e ARSC”, assim como o “apoio da DGS, particularmente do PNSM, que tem mantido algum financiamento para o seu desenvolvimento, e o CHUC, que tem sido um aliado na disponibilização de recursos humanos”.

Segundo dados apresentados pelo coordenador do Mais Contigo, reconhecido como boa prática pelo PNSM (da Direção-Geral da Saúde), mas também pelo ICN – Conselho Internacional de Enfermeiros, em dez anos de intervenção, “mais de 40 mil adolescentes de norte a sul” do país participaram no programa, assim como “mais de 7 mil docentes e assistentes operacionais, cerca de 5 mil pais/encarregados de educação, mais de 600 dinamizadores, maioritariamente profissionais de saúde, cerca de 460 agrupamentos de escolas e 100 ACeS/ULS (agrupamentos de centros de Saúde e unidades locais de Saúde)”.

Por outro lado, “ao longo deste decénio, tiveram acompanhamento especializado cerca de 600 adolescentes”, sendo que “os cuidados de saúde primários foram o alicerce que permitiu este desempenho” e “as equipas de saúde escolar a cara do Mais Contigo, nas largas centenas de escolas que a ele se associaram”, acrescentou o professor José Carlos Santos.

Na sessão de abertura do encontro intervieram, ainda, a enfermeira diretora de Enfermagem do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Áurea Andrade, a presidente da ARS do Centro, Rosa Reis Marques, e a Presidente da ESEnfC, Aida Cruz Mendes.

O programa Mais Contigo é dinamizado em Portugal, desde o seu início, pela ESEnfC e pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, contando já com múltiplos parceiros de norte a sul do país e nos territórios insulares – este ano terá início na região autónoma da Madeira.

O Mais Contigo trabalha aspetos como o estigma em saúde mental, o autoconceito e a capacidade de resolução de problemas, devidamente enquadrados na fase da adolescência.

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