Professor na UC recorda Helmut Kohl

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 17-06-2017

O antigo conselheiro de António Guterres e professor em Coimbra, Stuart Holland, recorda o memorando que escreveu a Helmut Kohl, um chanceler comprometido “com uma Alemanha europeia e não com uma Europa alemã”.

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Helmut Kohl

Helmut Kohl, que faleceu na sexta-feira, era contra o alargamento da área de atuação do Banco Europeu de Investimento (BEI). Em 1997, Stuart Holland escreveu um memorando ao chanceler alemão, que mudou de ideias e acabou a aprovar a mudança no BEI – uma medida “muito importante” para a economia da União Europeia.

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“Não era um especialista de economia, mas percebia a importância dos grandes momentos”, disse à agência Lusa Stuart Holland, frisando a “força de carácter” do antigo líder germânico, que teve a capacidade para ouvir e mudar de ideias.

Em 1996, António Guterres propôs no Conselho Europeu o alargamento da atuação do BEI a áreas sociais, como a saúde, regeneração urbana e ambiente, e o único líder que se opôs foi o na altura chanceler alemão Helmut Kohl, dando como justificação que “o contribuinte alemão já pagou o suficiente”, conta Stuart Holland, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

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“O ponto importante das ‘bonds’ [obrigações] do BEI é que não contam para a dívida nacional. Hoje, a Alemanha não reconhece isso e Kohl também não reconhecia na altura”, acreditando que se tratava de uma transferência orçamental paga com impostos dos contribuintes, explanou à agência Lusa o antigo conselheiro de Guterres.

António Guterres, reunido em Lisboa com Stuart Holland e com o então assessor diplomático José Freitas Ferraz, perguntou ao professor inglês: “O que vamos fazer?”.

“Eu disse: É claro que Kohl não sabe o que é uma ‘bond’”, conta Stuart Holland, que foi convidado por Freitas Ferraz a escrever um memorando a um conselheiro do líder germânico.

No memorando endereçado a Kohl, o conselheiro inglês de Guterres recorda que terá dito que o primeiro-ministro iria pressionar mais uma vez, na reunião do Conselho Europeu em Amesterdão, em junho de 1997, para a extensão “do princípio das ‘bonds’ do BEI para outras áreas” e explicou que “as ‘bonds’ não são pagas por contribuintes alemães”.

“Isto persuadiu Kohl, que mudou de ideias, e os termos de referência das ‘bonds’ foram alargados”, algo que permitiu “quadruplicar o investimento do BEI” e torná-lo, pela primeira vez, “um instrumento de investimento social”.

Para Stuart Holland, este episódio “mostra como Kohl rapidamente conseguiu compreender a importância financeira de uma enorme questão europeia”.

“Era um homem muito influenciado pela 2.ª Guerra Mundial, como toda aquela geração, e profundamente comprometido não com uma Europa alemã mas com uma Alemanha europeia. e isso, hoje, perdeu-se, especialmente por causa de Schäuble [ministro das Finanças alemão]”, sublinhou o antigo conselheiro de Guterres.

O ex-chanceler alemão Helmut Kohl, o “pai” da reunificação alemã, morreu na sexta-feira aos 87 anos na sua casa de Ludwigshafen, sudoeste do país.

 

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