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Povos Serranos querem reavivar baldios e apostar em árvores autóctones

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 15-07-2017

O reavivar dos baldios e a aposta em árvores autóctones foram algumas das soluções apontadas hoje, no Encontro de Povos Serranos, na Serra da Lousã, onde se deixou o conselho de ampliar aquilo que a natureza já diz.

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Espanha-Medronho-Fruto

Especialistas e habitantes dos concelhos que integram a Serra da Lousã reuniram-se hoje no segundo ponto mais alto da serra, no Santo António da Nave, na Castanheira de Pera, para debater a necessidade de se repensar o território, após os trágicos incêndios que assolaram o Pinhal Interior, provocando 64 mortos e mais de 200 feridos.

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Durante a conversa, apontou-se para o turismo, para a necessidade de se criar mais riqueza com a floresta e para a aposta em folhosas mais resistentes às chamas, num debate onde também marcou presença a problemática do eucalipto, espécie exótica que ocupa vastas áreas na região.

“São precisas grandes soluções para que daqui a dez anos a situação não se repita”, defendeu o engenheiro florestal e editor da “Foge Comigo!”, Armando Carvalho, um dos oradores do debate, que decorreu ao ar livre.

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As soluções, vincou, não precisam de implicar muito dinheiro – aliás, “dinheiro a mais não é a solução, inibe a imaginação” -, mas sim criatividade e compromisso entre entidades e populações.

O engenheiro florestal recordou que uma área de sobreiros conseguiu abrandar a propagação do incêndio numa aldeia de xisto no concelho de Penela, sublinhando que é necessário “ampliar aquilo que a natureza está a dizer”.

O argumento foi corroborado pelo biólogo Carlos Fonseca, utilizando o exemplo dos medronheiros, que conseguem “atuar quase como um contra-fogo natural”.

Além de ser uma planta mais resistente, “dá mais dinheiro, no mesmo espaço de tempo, do que o eucalipto”, constatou Carlos Fonseca, investigador da Universidade de Aveiro, que para a semana vai assumir funções na Comissão Técnica Independente de análise aos incêndios de Pedrógão Grande.

“Este momento zero é uma oportunidade de fazermos diferente daquilo que fizemos durante décadas”, salientou o docente – posição semelhante à de Armando Carvalho, que notou “que, a partir do zero, há mais liberdade para se fazer diferente”.

Já o antigo técnico do Ministério da Agricultura e investigador da História de Pedrógão Grande, Aires Henriques, defendeu o ordenamento e parcelamento da floresta – “sempre falados mas nunca aplicados” – e a necessidade de se apoiar os proprietários florestais afetados, que são “gente descapitalizada”, a maioria com 60 ou 70 anos, que está “na penúria e sem condições para recuperar a área perdida”.

pinheiro

Durante o debate, Aires Henriques sublinhou ainda o exemplo de Arouca, onde foram criados os Passadiços do Paiva, referindo que deveria haver uma solução semelhante para uma região onde há vários cursos de água com potencial turístico.

“Há que reavivar a propriedade comunitária”, defendeu a investigadora da Universidade de Coimbra Rita Serra, lembrando que “há meio milhão de hectares [de floresta] que são posse de comunidades locais”, os baldios, que poderão assumir uma função de controlo, gestão e também “de distribuição do valor”.

Do público que assistia e que participou no debate, surgiram vários alertas e possíveis soluções, a maioria centradas na necessidade de se abandonar as monoculturas de eucalipto e de inverter o caminho até agora trilhado com a plantação de árvores autóctones. Não é “só com água que se combate o fogo”, lembrou um dos participantes.

“Temos que pensar o que podemos fazer na terra não apenas hoje, para nós, mas pensar no que fica para os nossos filhos e os nossos netos”, defendeu o engenheiro florestal e administrador da Praia das Rocas, na Castanheira de Pera, José Pais, deixando uma nota final: “Temos de deixar de ser apenas contribuintes de dinheiro e passar a ser contribuintes de opinião”.

O Encontro de Povos Serranos costuma reunir centenas de participantes em confraternização e defesa da serra, provenientes da Castanheira de Pera, Lousã, Góis e Miranda do Corvo, mas também de Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande.

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