Saúde

Pneumologista alerta para riscos do “fumo em terceira mão” sobretudo nas crianças

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 ano atrás em 29-12-2022

A pneumologista Sofia Ravara alertou hoje para os riscos do “fumo em terceira mão”, substâncias libertadas pelo fumo do tabaco que podem estar nas paredes, mobílias ou mesmo no hálito dos fumadores e que prejudicam sobretudo as crianças.

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“O fumo do tabaco tem partículas em suspensão que são muito finas e invisíveis aos nossos olhos e que acabam por depositar-se nas superfícies”, disse a coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, em declarações à Lusa.

Segundo a especialista, as crianças são as mais expostas a estes riscos, sobretudo os bebés que gatinham e levam as mãos à boca.

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“Antes tínhamos só esta ideia do fumo em segunda mão [fumo passivo], mas do ponto de vista biofísico, existe também esta nova forma de exposição, que acontece sobretudo nos locais em que as pessoas fumam, e depois não há arejamento e ventilação que sejam eficazes”, disse Sofia Ravara.

Segundo a organização não-governamental (ONG) europeia Smoke Free Partnership, que trabalha na implementação das políticas de controlo do tabagismo a nível da União Europeia, o fumo de terceira mão contém substâncias químicas tóxicas que se tornam mais tóxicas com o tempo à medida que os seus compostos químicos se alteram.

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No entanto, a organização alerta para o facto de esses produtos químicos poderem “ser transformados em outras formas perigosas com efeitos atualmente desconhecidos”.

“O fumo de terceira mão deve ser sistematicamente contabilizado na recomendação revista sobre a proibição do fumo, a fim de controlar e alcançar eficazmente a ambição da Comissão Europeia de um ambiente livre de substâncias tóxicas”, defende num documento divulgado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia à agência Lusa.

A organização alerta que todas as formas de fumo em segunda e terceira mão são prejudiciais para a saúde, e “as crianças correm um risco particular”, uma vez que não conseguem controlar os seus ambientes.

Esta é uma das matérias que não está contemplada nas novas regras que entram em vigor a 01 de janeiro e se focam apenas nos locais públicos fechados, onde ainda é permitido fumar.

Para Sofia Ravara, o novo diploma devia ir mais longe, proibindo fumar em todos os locais públicos, exteriores e interiores.

“As próprias normativas além de serem muito difíceis de implementar e extremamente caras, não vão proteger” a população, disse a especialista, criticando: “Vamos a Espanha e não vemos sítio nenhum para fumar nos aeroportos e em Portugal nos aeroportos é logo o cartão-de-visita de Portugal”.

Sofia Ravara salientou que Portugal assinou a Convenção Quadro da Organização Mundial de Saúde para o Controlo do Tabaco que “é para cumprir e para implementar as várias medidas, entre as quais a regulamentação da proibição de fumar nos locais públicos e sua extensão”.

Mas não é só implementar bem as medidas, disse, é “fazer boas medidas de controlo do tabagismo, implementar bem as políticas de saúde pública, e monitoriza-las”, o que de certa maneira terá de ser feito pela sociedade, porque “infelizmente, em Portugal, as autoridades não fazem aquilo que deveriam fazer, que é fiscalizar”.

A especialista salientou que está a começar “um movimento europeu fortíssimo”, com a revisão da diretiva da União Europeia sobre a exposição ao fumo de tabaco, no qual Portugal vai participar através da sociedade civil e que “vai ajudar os portugueses a perceberem” a importância de uma sociedade “mais interventiva”.

A Smoke Free Partnership alerta para “o grave impacto” do fumo passivo: Além dos 1,2 milhões de mortes anuais estimadas globalmente, o impacto que este tem sobre o ambiente também precisa de ser enfrentado.

“As políticas antitabaco são medidas eficazes na redução das desigualdades socioeconómicas e de saúde e são fundamentais para proteger as crianças num mundo em que se estima que a exposição ao fumo do tabaco cause anualmente 166.000 mortes de crianças”, salienta a ONG.

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