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Pedrógão Grande: Floresta está a autorregenerar-se mas falta intervenção humana diz investigador da Universidade de Coimbra

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 15-06-2020

Os incêndios florestais são essencialmente um problema associado à ação humana, inclusive na origem, afirma o investigador Luciano Lourenço, da Universidade de Coimbra, indicando que, apesar da tragédia de Pedrógão Grande, que ocorreu há três anos, “há pouca intervenção” na gestão florestal.

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“Não vejo grandes alterações nas áreas que foram queimadas, não vejo grandes investimentos, vejo que a floresta se está a autorregenerar […] e, em muitos locais, algumas espécies florestais estão a germinar, estão a regenerar-se. Há, efetivamente, algum trabalho natural. Do ponto de vista antrópico, há pouca intervenção”, disse o também diretor do Núcleo de Investigação Científica de Incêndios Florestais (NICIF) da Universidade de Coimbra, em declarações à Lusa.

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Encarando o fogo de Pedrógão Grande – que deflagrou em 17 de junho de 2017 e provocou a morte de 66 pessoas e 253 feridos – como uma exceção em termos de vítimas, no contexto dos incêndios florestais em Portugal, o investigador lembrou que a tragédia motivou, imediatamente, uma série de medidas, mas “grande parte delas acaba por não ter a eficácia que seria prevista”.

“Do ponto de vista legislativo, fez-se muita coisa, há intenção de fazer muita coisa”, admitiu Luciano Lourenço, referindo que este ano há o impacto da pandemia da covid-19, inclusive na gestão do espaço florestal, o que “inibe alguma intervenção, portanto pode ser usado como álibi” quanto à ocorrência de incêndios.

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Relativamente à limpeza de terrenos, referiu, “o espaço florestal tem um problema grave – é que o combustível está sempre a aumentar”. Por isso, é necessário intervir para criar as faixas de segurança à volta das aldeias, dos aglomerados populacionais, das áreas industriais e ao longo das vias de comunicação, no sentido de assegurar que “os meios possam combater com eficácia”.

“Esse é um trabalho que tem de ser feito todos os dias”, apontou Luciano Lourenço, referindo-se à gestão do combustível, considerando que “nem sempre é feita de forma mais eficaz em todos os locais”.

Quanto à época de incêndios deste ano, “vai depender muito do que acontecer em termos meteorológicos”, afirmou o diretor do NICIF, lembrando que até ao momento não se verificam condições semelhantes a junho de 2017, porque houve dias de chuva.

“Julho, agosto e setembro podem ter condições diferentes”, alertou o investigador. Por norma, lembrou, junho não acarreta grandes problemas em termos de incêndios, mas há exceções, como em 2017, com o incêndio de Pedrógão Grande e, depois, com os fogos que atingiram sobretudo a região Centro.

Segundo o investigador, nas áreas em que ardeu, a carga combustível hoje é muito menor, “mas há outras áreas onde os combustíveis têm uma carga relativamente importante e que poderão arder”.

Assim, em termos de condições suscetíveis à ocorrência de incêndios, há algumas áreas em que, sobretudo se não houver capacidade de ataque inicial para debelar o fogo, com condições meteorológicas semelhantes, podem registar-se “incêndios semelhantes” ao de Pedrógão Grande.

Ainda assim, sublinhou, por “ter acontecido um ano não significa que venha a repetir-se exatamente o mesmo padrão de todas as circunstâncias que contribuem para os incêndios”.

“Os combustíveis são importantes, as condições meteorológicas são importantes, o relevo é importante, mas depois, do ponto de vista antrópico, há uma série de aspetos, quer em termos de capacidade de antecipação, quer em termos de capacidade de resposta. E vão fazer com que essas condições possam ou não evoluir para grandes incêndios. Portanto, vamos esperar que o sistema responda de uma forma mais eficiente do que foi capaz de o fazer em 2017”, declarou.

Na perspetiva do diretor do NICIF, “os incêndios florestais são, essencialmente, um problema antrópico”, quer nas suas causas, quer na forma como são dominados.

Explicando que todos os incêndios começam por ser de pequena dimensão, Luciano Lourenço destacou a importância da intervenção humana, com a capacidade de antecipação das ocorrências e com a coordenação do dispositivo de combate. Como principal dificuldade, indicou o registo de muitos incêndios em simultâneo.

“Situações verdadeiramente excecionais como aconteceram em 2017 são raras e esperemos que não se repitam muitas vezes”, reforçou.

O incêndio que deflagrou há três anos em Pedrógão Grande e que alastrou a concelhos vizinhos provocou a morte de 66 pessoas e 253 feridos, sete dos quais graves, e destruiu cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.

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