Saúde

Pandemia teve impacto em doentes com patologias associadas ao sono

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 anos atrás em 19-03-2021

A pandemia da covid-19 também teve implicações junto de doentes com patologias respiratórias associadas ao sono, nomeadamente “queixas de insónias relacionadas com ansiedade”, afirmou hoje a pneumologista do Hospital de São João, no Porto, Marta Drummond.

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“A ansiedade é própria deste tempo pandémico em que vivemos. Notamos que os doentes têm mais queixas de insónias relacionadas com ansiedade. Quer os que já eram seguidos, quer os referenciados de novo”, descreveu a especialista, no âmbito do Dia Mundial do Sono, que se comemora hoje.

Responsável pelo Centro de Responsabilidade Integrado (CRI) de Sono e Ventilação não Invasiva (VNI) do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), um serviço multidisciplinar e especializado numa determinada tipologia de doentes que foi criado em 2020, Marta Drummond contou à Lusa o trabalho levado a cabo neste centro, nomeadamente o estudo feito no primeiro confinamento.

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“Telefonámos a todos os nossos doentes que estavam ventilados com patologia respiratória do sono para perceber o impacto da pandemia na qualidade do sono. Verificámos que larga maioria tinha impacto negativo com o reaparecimento de insónia, agravamento das insónias prévias, entre outros aspetos”, descreveu.

Este serviço do Hospital de São João, o único do país a ter um CRI dedicado ao sono, nasceu em pleno período pandémico, há oito meses, mas antes existia já neste centro hospitalar um laboratório do sono e ventilação não invasiva.

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Marta Drummond contou como os procedimentos tiveram de ser alterados, devido aos “cuidados acrescidos de higienização de espaços e equipamentos”, algo que “influencia o número de doentes que podem ser vistos por dia”.

“Os doentes precisam de fazer estudos do sono. Alguns dormem no hospital e tiveram de fazer testes covid-19. Quanto aos que levam equipamentos para fazer diagnóstico, temos de pensar que nessa casa pode alguém estar infetado. Quando o equipamento retorna, tem de ser higienizado ou fazer quarentena de 48 horas. A pandemia obrigou-nos a ter mais equipamento e mais tempo de higienização”, descreveu.

Marta Drummond, que é também professora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), admitiu que “de início” a pandemia se refletiu em menor procura, mas os números nunca chegaram a ter impacto no CHUSJ, porque “a lista de espera era de muito tempo”.

“Notámos que no primeiro confinamento os médicos de família referenciaram menos. Acredito que quando o Serviço Nacional de Saúde deixar de ter alguns dos constrangimentos associados à covid-19, se venha a ter uma quantidade de pedidos superior ao habitual, mas neste momento é idêntica”, analisou a médica.

Em causa está um centro com oito meses de atividade que, quando iniciou funções, tinha listas de espera de 3.000 doentes e mais de dois anos para consulta.

Atualmente, com listas de espera de 900 doentes, o tempo para aguardar consulta situa-se em menos de nove meses.

A meta é chegar a menos de três até ao final do ano, disse a responsável.

“Sentíamos uma necessidade enorme em dar resposta às necessidades da população no que concerne à patologia respiratória do sono. A patologia respiratória do sono tem uma prevalência elevadíssima e tem vindo a aumentar nos últimos anos, estimando-se que aumente nas próximas décadas”, apontou a pneumologista.

Assim, são objetivos do CRI do Sono – que junta pneumologia, neurologia, psiquiatria, estomatologia, otorrinolaringologia, cuidados paliativos, psicologia e nutrição – aumentar a acessibilidade às consultas e dar resposta atempada.

“Temos uma abordagem multidisciplinar que nos permite melhor servir os doentes, porque às vezes o tratamento não passa por um só tratamento, mas pela complementaridade de várias medidas terapêuticas. E, por outro lado, podemos discutir entre nós casos mais graves em que o tratamento ou o diagnóstico são mais difíceis”, descreveu.

À Lusa, Marta Drummond explicou que com o CRI “se ganhou multidisciplinaridade e capacidade”, dando como exemplo o facto do CHUSJ passar a comparticipar a 100% próteses de avanço mandibular, um dos tratamentos para patologias associadas ao sono, ou a obrigatoriedade dos profissionais de diferentes especialidades cumprirem tempos máximos de resposta.

Neste Dia Mundial do Sono, a especialista alertou que “são referenciados cada vez mais doentes mais novos” e que “há cada vez mais doentes obesos”.

“São precisas mudanças de estilo de vida: comida mais saudável, exercício físico regular, não usar bebidas alcoólicas à noite ou sedativos que possam agravar as doenças respiratórias”, disse, enfatizando os malefícios do tabaco.

“Fumar duas horas antes de ir deitar agrava a roncopatia e a patologia respiratória do sono”, frisou.

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