Saúde

Não há boa saúde mental na população mexendo apenas nos serviços de saúde

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 anos atrás em 06-05-2021

O diretor do Plano Nacional para a Saúde Mental afirmou hoje que “não há qualquer hipótese” de ter uma boa saúde mental na população mexendo apenas nos serviços de saúde e que é preciso complementar com políticas noutras áreas.

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“Se nós não mexermos nas outras políticas, fundamentalmente na política de educação, na política laboral e na política de segurança social, não almejem ter uma boa saúde mental numa população, é absolutamente impossível”, disse o psiquiatra Miguel Xavier no Fórum de Saúde Mental em Contexto Laboral: Desafios Atuais e Novas Respostas, que está a decorrer em Lisboa e que é promovido pela Associação Nacional para a Saúde Mental – AlertaMente.

Segundo o diretor do Plano Nacional para a Saúde Mental da Direção-Geral da Saúde este vai ser “o desafio mais importante” a médio e longo prazo para o país nesta área, mas afirmou que agora é a fase em que Portugal tem de “reformar algumas misérias” que existem.

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“Temos ainda doentes a viverem situações miseráveis, temos de montar um sistema nos cuidados primários para dar resposta à doença mental, como temos de conseguir depois começar a escalar programas nacionais de promoção e prevenção a nível nacional, mas este é o grande desafio do futuro”, reiterou.

Para Miguel Xavier, quando se conseguir convencer o poder político de que tem de colocar um componente de saúde mental nas políticas que faz nas outras áreas, o país estará no caminho certo.

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O especialista falou ainda sobre os estudos que têm sido realizados sobre o impacto da pandemia na saúde mental da população e particularmente nos profissionais de saúde.

“Nunca se fez tanto estudo sobre depressão e ansiedade em Portugal, nem no resto do mundo, se calhar”, mas não correspondem a perturbações psiquiátricas, correspondem a inventários de sintomas.

Referindo-se à questão do ‘burnout’ das equipes que estiveram a trabalhar na linha da frente, disse que a perceção que tem sobre este assunto é que aquilo a que se chamou ‘burnout’ em muitos dos estudos era “exaustão, cansaço”.

O psiquiatra explicou que a “parte mais importante” do ‘burnout’, que é a vontade de ir embora, de deixar tudo, revela-se normalmente pelas baixas, pelas faltas, pelas desistências e não ocorreu da maneira como sugerem os dados que aparecem em Portugal sobre esta doença.

Se 60% das pessoas que estiveram na linha da frente estivessem em ‘burnout’, “o sistema de saúde na terceira semana de janeiro tinha desabado”, afirmou.

Para o psiquiatra, nunca houve um período em que a população estivesse tão sensibilizada para a questão da saúde mental como agora.

“Isto porque enquanto a saúde mental, antigamente, era um problema dos outros, com a pandemia covid entrou-nos em casa, porque todos nós tivemos alguns problemas de insónia, alguma ansiedade, alguma coisa depressiva, dissemos: ‘já não aguento mais isto, eu preciso de viajar, preciso passear, preciso de ir ao restaurante, preciso abraçar os meus amigos’”, apontou.

O psiquiatra sublinhou ainda que os determinantes socioeconómicos são os mais poderosos determinantes das doenças mentais comuns, enquanto as doenças mentais graves têm fundamentalmente determinantes genéticos.

Como as doenças mentais comuns têm como principal determinante a situação socioeconómica, Miguel Xavier disse que não o espantou nada o que aconteceu na população, alertando que a questão do desemprego e da precariedade tem de ser levada em linha de conta.

Citando um estudo de morbilidade psiquiátrica, Miguel Xavier disse que a prevalência anual das doenças psiquiátricas é de 23%, afetando uma em cada quatro pessoas.

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