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Moçambique: Governo recusa confirmar presença de empresas privadas de segurança

Notícias de Coimbra | 3 anos atrás em 21-04-2021

 Governo moçambicano declinou hoje no parlamento confirmar a presença de empresas privadas de segurança na luta contra grupos armados na província de Cabo Delgado, norte do país, justificando com “o caráter sensível” e “militar” do assunto.

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“O tratamento deste tipo de matérias sensíveis é geralmente reservado às Forças de Defesa e Segurança (FDS)”, afirmou o primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, na Assembleia da República.

O governante respondia a perguntas da oposição sobre a presença e o custo de “mercenários” ao lado das forças moçambicanas na luta contra os grupos armados que protagonizam ataques na província de Cabo Delgado.

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Sem pronunciar a palavra “mercenários”, como fez a oposição parlamentar, o primeiro-ministro assinalou que, na luta contra o “terrorismo”, o executivo conta com a cooperação internacional, nomeadamente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), mas assinalou que não podem ser prestados pormenores sobre matérias de domínio militar.

“Não se pode perder de vista que alguns desses domínios de apoio e assistência ao combate ao terrorismo são de caráter militar”, enfatizou.

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As duas bancadas da oposição parlamentar criticaram a falta de informação sobre a presença de empresas privadas na guerra em Cabo Delgado, enquanto o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), apoiou a posição do executivo, sob o argumento de que não devem ser divulgados pormenores sobre a estratégia operacional das FDS.

“O povo quer segurança, mas o que recebe deste Governo ingrato é uma fatura pesada de dinheiros drenados para mercenários sem escrúpulos e violadores de direitos humanos, que atuam fora das leis que esta Assembleia da República estabeleceu”, afirmou o deputado Silvério Ronguane, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira força parlamentar, que colocou ao executivo a questão da presença de “mercenários” em Cabo Delgado.

Para a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, a ação de grupos armados na província de Cabo Delgado tem relação com os projetos de gás natural na área e é a manifestação de que os recursos naturais estão a ser uma maldição para o país.

“O júbilo em torno do gás natural deu lugar ao pesadelo”, afirmou Fernando Lavieque, deputado da Renamo.

O “El dorado” do gás natural, prosseguiu, está a ser usado para provocar a chacina, o caos e a confusão na região norte.

Por sua vez, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) acusou a oposição de colocar em perigo a defesa da pátria por estar a exigir a exposição da estratégia da guerra contra o “terrorismo”.

“Estratégia militar é isso mesmo, é estratégia, e não pode aqui o Governo divulgar detalhes sobre as suas operações no terreno”, afirmou Lucinda Malendza, deputada da Frelimo.

Os detalhes do combate ao terrorismo, prosseguiu, não podem ser colocados em “hasta pública”, referiu.

Lionel Dyck, líder do grupo militar privado sul-africano Dyck Advisory Group (DAG), anunciou no final de março que ia deixar de dar apoio aéreo às Forças Armadas moçambicanas, após um contrato de um ano.

A organização de defesa dos direitos humanos Amnistia Internacional (AI) exigiu no mês passado a investigação a eventuais violações de direitos humanos por parte das forças em conflito em Cabo Delgado, incluindo forças privadas, mantendo uma preocupação que já expressou várias vezes em relação à sorte da população civil nas zonas de conflito.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 714.000 deslocados de acordo com o Governo moçambicano.

O mais recente ataque foi feito em 24 de março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do projeto de gás com início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.

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