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Livro sobre “Mulheres na Guerra” espera ser “um pequeno contributo para a igualdade”

Notícias de Coimbra com Lusa | 11 meses atrás em 20-05-2023

O livro “Mulheres na Guerra”, da jornalista e comentadora Helena Ferro de Gouveia, tem o propósito de resgatar nomes que tiveram “dimensão histórica significativa” e que foram esquecidos e é também “um pequeno contributo para a igualdade”.

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Quem o diz é a autora, que é especialista em comunicação, analista em assuntos internacionais e comentadora da CNN Portugal.

“Espero dar um contributo para que a mulher seja vista de outra forma ou para resgatar algumas mulheres que tiveram uma dimensão histórica significativa para as trazer de novo à História e para dar um pequeno contributo para igualdade”, diz à Lusa Helena Ferro Gouveia.

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No fundo, é “devolver” o papel da mulher “à História”, afirma.

“Mulheres na Guerra” é lançado na próxima terça-feira, dia 23 de maio, sob a chancela da Oficina do Livro, e conta com o posfácio de Ana Gomes.

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“Deu-me um gozo bestial escrever [este livro], tenho muita experiência de países em conflitos, espero dar um contributo para que a mulher seja vista de outra forma”, acrescenta a autora.

A primeira mulher na guerra de que há registo data de 1200 a.C., a marechal chinesa Fu Hao, mas o livro também relata as histórias de espias, entre elas Gertrude Bell, que era fluente em árabe, entre outras línguas, e foi “a primeira mulher a ser contratada oficialmente pelo governo britânico como agente secreta”, ou jornalistas como Martha Gellhorn, que desembarcou com as tropas aliadas na Normandia na II Guerra Mundial, ou rainhas como a bailarina Olesia Vorontnyk.

Há também lugar para a história de Antónia Rodrigues, “o terror dos mouros”, a única cavaleira, “durante séculos”, condecorada pelo exército português.

A ideia “foi da Leya e do Francisco Camacho”, que lhe ligou em plena guerra da Ucrânia a perguntar se Helena Ferro de Gouveia gostaria de escrever um livro sobre as mulheres e a guerra, no formato que entendesse.

E Helena Ferro de Gouveia decidiu avançar com a proposta das mulheres na guerra porque estas “sempre estiveram na guerra desde a antiguidade, mas depois desapareceram da História, apesar da importância que tiveram no próprio decorrer das guerras, e não apenas no papel de apoio, não apenas como enfermeiras ou cuidadoras”.

As mulheres “tiveram um papel ativo no planeamento das guerras, mesmo no combate enquanto militares”, sem esquecer que “houve mulheres vikings, mulheres samurais e que, se calhar, a maior parte das pessoas não tem consciência desde papel das mulheres”, prossegue a autora.

“E depois porque interessava-me refletir também sobre a guerra em si, as implicações que tem para a vida das mulheres, sendo que mulheres e crianças continuam a ser, infelizmente, as principais vítimas de guerras e de conflitos e armados”, sublinha.

Aliás, na recente guerra da Ucrânia isso foi patente, com as mulheres e as crianças a terem de abandonar o país ou sair da região onde estavam.

“Queria que a mulher saísse do lugar da vítima e recordássemos também o papel ativo que teve”, adianta, referindo que o livro “não é um elogio ou uma elegia à guerra, mas é sobre o impacto que a guerra” tem na vida de todos.

Ou seja, “é um bocadinho resgatar desta invisibilidade, destas burcas que continuam a existir sobre as mulheres”, reforça.

No livro, Helena Ferro de Gouveia relata a história de Maria Florinda da Luz, uma camponesa analfabeta de Nisa.

“Durante a guerra colonial, os militares que tombavam em África ou nas antigas colónias não eram transportados para Portugal se não fossem oficiais”, mas isso mudou em 1967 “graças a uma mãe que teve uma coragem extraordinária que, sendo analfabeta, pediu ajuda para escrever uma carta ao ministro da Defesa”, conta a autora.

“Foi a vontade de uma mãe, de uma mulher que perdeu o filho que levou a que os militares fossem transportados do sítio onde tinham morrido para Portugal. Há imensos episódios que não são conhecidos da História e que tiveram aqui uma mão feminina”, destaca.

A guerra “ainda era vista como um território masculino”, diz, apontando como exemplo o Reino Unido, que só em 2016 “permitiu que as mulheres combatessem na linha da frente ou fizessem parte de unidades de operações especiais”.

A mulher “sempre foi secundarizada porque sempre se considerou a guerra como um território viril e depois quando nós olhamos para a historiografia da guerra ela é feita por homens e no masculino”, refere.

Helena Ferro de Gouveia leu a historiografia militar portuguesa, que classifica de “muito boa e muito consistente”, mas “não há uma mulher referida” nela.

Questionada sobre o populismo, quer de direita como de esquerda, que grassa pelo mundo, Helena de Ferro Gouveia manifestou “preocupação”, até porque “há muita coincidência [entre estes dois extremos] no que toca ao papel da mulher, na visão da mulher”.

Destaca também o “importante papel” que a CNN teve com a guerra na Ucrânia em convidar mulheres para comentar o conflito, o que contribui para igualdade: ter mulheres que “falam daquilo que sabem pela sua competência e não por usarem uma farda e não serem homens”.

“Dificilmente temos mulheres a comentar o terrorismo”, lamenta.

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