Coimbra

Académica: “Já não há SAD que nos valha!”

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 03-03-2022

Definindo-se como “militante da Académica”, José Paulo Fernandes Fafe, fundador da Casa da Académica em Lisboa, vem a terreiro defender o fim do Organismo Autónomo de Futebol e aquilo que ele define como “um regresso “às origens”, ou seja, o retorno à “Casa Mãe”.  Em entrevista a NDC afiança que “o tempo provou que o OAF é insustentável”.

PUBLICIDADE

Notícias de Coimbra (NDC): Foi um destacado apoiante da eleição de Pedro Roxo e desta direção. Está arrependido?

José Paulo Fernandes Fafe (JPF)_ Fui, claro que fui. De Pedro Roxo, como já tinha sido antes do Paulo Almeida, aliás sem qualquer arrependimento relativamente quer a um, quer a outro. Sei, porque conheço suficientemente bem o Pedro Roxo, que ele fez até hoje o melhor que sabia e o melhor que pôde, não tenho qualquer dúvida quanto a isso. As coisas correram-lhe mal? Claro que correram, os 14 pontos e o último lugar na tabela classificativa ao fim de 24 jornadas não enganam ninguém…

PUBLICIDADE

publicidade

NDC: Mas considera esta direção responsável pelo descalabro em que vive a Académica, OAF?

JPF: Sinceramente não sei se esta direção é tão ou mais responsável pela situação a que chegámos que a direção que ao longo de 12 anos “sequestrou” o clube, tenho grandes dúvidas sobre isso. Que eu saiba não foi o Pedro Roxo que deixou o clube na segunda divisão, que o deixou atolado em dívidas, ou que foi condenado, repito, condenado por corrupção.

PUBLICIDADE

NDC: Então o culpado da situação em que vive a Académica é o engº José Eduardo Simões?

JPF: Em grande parte sim, não tenho qualquer dúvida em afirmá-lo. Ao longo de uma dúzia de anos a direção desse senhor manchou a história da Académica, hipotecou os valores e princípios que sempre a nortearam, e colocou-a num patamar ético pouco condizente com o estatuto que desde sempre granjeámos no nosso historial. Foi um período triste, penoso, foram verdadeiros ‘anos de chumbo’. Vamos lá ver: uma coisa é ser-se incapaz de levar a cabo um projeto, de se falhar a implementação de uma estratégia, disso podemos acusar o Pedro Roxo; outra coisa é destruir um emblema, é emporcalhar, perdoe-me a expressão, mais de um século de história, ou arrastar para a lama tudo o que orgulhava tantos por esse país e mundo fora, e isso o engº Simões fê-lo. E fê-lo conscientemente!

NDC: O que falhou neste mandato de Pedro Roxo?

JPF: Falhou muita coisa, a começar pela comunicação. Esta direção não soube comunicar, como também não teve a coragem que era preciso ter em momentos-chave. Estou a lembrar-me do que se passou numa assembleia-geral mal preparada, e em que o tema da SAD, além de mal apresentado, foi mal conduzido. Foram erros sobre erros, um desastre. Mas principalmente uma grande falta de coragem…

NDC: Falta de coragem?

JPF: O Fausto Correia costumava dizer que em Coimbra a coragem esgota-se à mesa do café. Ao olhar para o que se passou na Académica durante os últimos, cada vez lhe dou mais razão. Há momentos em que, se não tivermos coragem, ficamos nas mãos dos outros. Foi o que sucedeu a esta direção, que hoje é refém dos resultados, que está presa ao insucesso desportivo, que se arrisca a ficar na história como a direção que levou o clube para a terceira divisão.

NDC: Isso assusta-o?

JPF:  Mais do que assustar, entristece. Mas não é por isso, por irmos parar à terceira, que os academistas deixaremos de ser academistas. Digo-lhe mais: pode ser uma oportunidade para pôr um ponto final nesta loucura em que se transformou o OAF, temos de uma vez por todas de sermos suficientemente lúcidos para perceber que assim não vamos lá, que nos resta para já voltar às origens, retornarmos à Casa Mãe, sermos racionais, integrar o que ainda pode ser salvo na Secção de Futebol da Associação Académica, para mim é a única solução.

NDC: Isso não será deitar a toalha ao chão?

JPF:  Não, isso é ser lúcido. Sempre ouvi dizer, que quem não tem dinheiro, não tem vícios. As coisas são bem mais simples do que muitos querem fazer crer, e temos de ser honestos connosco próprios. Por outras palavras, o OAF é uma espécie de suicídio coletivo, se não nos pomos a pau, vai levar tudo atrás, se não colocamos um ponto final nesta loucura, então não irá restar nada da Académica.

NDC: Acha que os adeptos estão preparados para ver a Académica na terceira divisão?

JPF: Não vejo como é que será possível outro cenário que não esse. E como não sou crente, para muita pena minha não acredito em milagres. Se estamos preparados para ver a Académica na terceira divisão? Quem é mesmo academista, tem de estar preparado – para ver a Académica na terceira, na quarta, ou lá onde for. Volto a dizer-lhe: não é por estarmos na primeira, na segunda, ou na terceira, que os que somos mesmo da Académica o deixaremos de ser!

NDC: Falou em milagre. A transformação da SDUQ em SAD não poderia ser esse mesmo milagre?

JPF:  Sinceramente acho que essa oportunidade já passou. Já não há SAD que nos valha.

 NDC: Que conselho daria a Pedro Roxo? 

JPF:  Conselhos a amigos não se dão em público, muito menos quando não nos são pedidos. Tenho muita pena do que o Pedro Roxo está a passar, imagino o mal que ele se sente com esta situação. Vou mais longe: o Pedro não merecia tudo isto. Nem ele, nem alguns dos que o acompanharam nestes últimos anos. Tenho muita pena, mesmo muita pena, mas já começa a ser tarde para não ter um final triste.

Related Images:

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE