Investigadora pede mais atenção para as crónicas de Eça de Queirós

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 01-09-2017

A investigadora Annabela Rita afirma na obra “Eça de Queirós cronista: da ‘Chronica’ à Crónica”, que a escrita de crónicas de Eça de Queirós não tem merecido a devida atenção por parte dos investigadores.

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eça de queirós

“A falta de um verbete sobre crónica ou cronística no ‘Dicionário de Eça de Queiroz’, ausência que se mantém na segunda edição revista e ampliada [ausência apenas colmatada no bem-vindo Suplemento ao ‘Dicionário de Eça de Queiroz’ (2000)], é sintoma da pouca atenção dos estudiosos à especificidade deste discurso queirosiano”, escreve, na introdução, Annabela Rita, professora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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Eça de Queirós, refere a investigadora, iniciou-se “na escrita cronística de facto sistemática com a série do [jornal] Distrito de Évora (1867) e confirma-se com ‘As Farpas’ (1871-1872)”, acrescentando, que “de uma para a outra, a crónica queirosiana sofre uma profunda transformação: o fragmentarismo e a indefinição estruturais dão lugar à unidade textual coesa e com características bem definidas”.

No prefácio, o escritor Miguel Real realça que “o elemento de maior interesse do ensaio de Annabela Rita residirá na integração do pensamento do jovem Eça (entre os 22 e os 27 anos) no ideário crítico da ‘Geração de 70′, sobretudo na vertente que conduzirá todos os autores desta Geração na acentuação da categoria de Decadência como perfil histórico de Portugal desde o século XVII”.

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Real afirma que, neste ensaio, Annabela Rita demonstra “a autonomia da crónica como género literário e, por outro, a sua continuidade estética em forma de romance” na escrita do autor de “Os Maias”.

José Maria Eça de Queirós (1845-1900), a par de outros intelectuais como Jaime Batalha Reis e Antero de Quental, que desde os tempos na Universidade de Coimbra, a partir de 1865, fez parte do grupo denominado “Geração de 70”, que se revelou crítico do estado social e político do país, denunciando um “visível atraso civilizacional” relativamente à Europa Ocidental da época.

A obra foi o primeiro ensaio publicado por Annabela Rita, em 1998, e “conhece agora uma justa segunda edição”, salienta Miguel Real.

Neste título, afirma o escritor, “Annabela Rita opera a desconstrução histórica dos dois conjuntos de crónicas, o primeiro evidenciando um Eça entretecido no Rotativismo [alternância no poder executivo entre dois partidos], fazendo do Distrito de Évora um jornal tanto representativo do liberalismo do Estado como oposicionista ao ‘Governo da Fusão’ (Regeneradores e Progressistas [os dois partidos que alternavam no poder]) de Joaquim António de Aguiar”.

No segundo conjunto de crónicas, aponta Miguel Real, a autora “prossegue esclarecendo o Eça d”As Farpas’, da colaboração com Ramalho Ortigão, precursor do Eça da década de 1880, experimentando na crónica o futuro estilo literário presente nos seus romances, sobretudo a singularidade estilística que o identificará como autor de crítica e denúncia social por via do humor e da ironia”.

Segundo Miguel Real, “Annabela Rita demonstra a ligação entre a crónica da juventude e o romance do autor adulto, não distinguindo assim, como o faziam os intérpretes clássicos, o Eça cronista do Eça romancista, integrando ambas as vertentes literárias do autor na categoria histórica do Realismo” [corrente artístico-literária de finais do século XIX, que em oposição ao Romantismo defende uma visão científica do mundo e a moderação da exposição dos sentimentos].

Annabela Rita preside ao Instituto Fernando Pessoa – Língua Portuguesa e Culturas Lusófonas, da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, e coordena o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

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