Incêndios: Região centro tem características únicas de vegetação que criam vulnerabilidades

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 11-04-2018

 A região centro tem características únicas, de transição entre floresta do tipo do norte europeu e vegetação do norte de África, criando problemas e vulnerabilidades, disse hoje um especialista ao apresentar na Áustria o caso dos incêndios de 2017.

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Capela de São Bento no meio da Mata do Botânico

O professor da Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra e coordenador científico do Centro de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade (CERNAS), António Dinis Ferreira, falou sobre a vulnerabilidade da região centro de Portugal aos fogos e sobre os incêndios que afetaram a região numa conferência de imprensa organizada no âmbito da Assembleia Geral da União de Geociências Europeia (EGU), a decorrer em Viena.

Na mesma iniciativa, que abordou o problema dos incêndios no contexto de alterações climáticas, foram apresentados os casos dos fogos que, no ano passado, assolaram a Califórnia, nos Estados Unidos, o Canadá e a Gronelândia.

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António Dinis Ferreira descreveu o centro de Portugal como uma região única na Europa já que é uma área de transição entre características de floresta escandinava, do norte da Europa, e de vegetação africana.

A localização entre dois sistemas tão distintos coloca “grandes problemas e vulnerabilidades” às alterações climáticas e, no ano passado, “descobrimos quanto”, apontou.

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Nos últimos anos, registaram-se mudanças na estrutura da floresta e uma redução da população no interior, o que juntamente com eventos meteorológicos extremos, como temperaturas elevadas e “a tempestade perfeita”, sem chuva e com vento forte, caracterizaram os períodos em que vieram a registar-se os incêndios, que o investigador comparou a algo como “o mais perto do inferno”.

Para reverter a situação, António Ferreira defendeu a “diversificação da paisagem, do tipo de florestas e dos usos do solo, aumento da biodiversidade” e do armazenamento de carbono, assim como a criação de condições de atratividade das pessoas para voltarem a instalar-se nestas zonas.

Em resposta a um jornalista sobre o que foi feito em Portugal na prevenção e preparação de resposta a situações como a de 2017, o especialista apontou um plano para a limpeza das áreas à volta das aldeias e estradas”, realçando ser algo que “não é economicamente sustentável [realizar] todos os anos”.

Referiu também a definição de um conjunto de medidas, como a atribuição de geradores de eletricidade a pequenas aldeias das regiões mais vulneráveis a fogos, ou a aposta na reintrodução de espécies florestais autóctones, mais resistentes ao fogo.

Etienne Tourigny, do Centro de Supercomputação de Barcelona, falou do trabalho realizado para descrever a situação meteorológica verificada nos incêndios de outubro e dezembro, na Califórnia sendo o último o maior da história da região, recordando que 2017 registou vários extremos nomeadamente de temperaturas, mas realçando que “é difícil dizer que se trata do efeito das alterações climáticas”.

O investigador de Barcelona referiu que o centro pretende avançar com previsões para algumas regiões de modo a disponibilizar informação útil para as autoridades, de Portugal e Espanha, por exemplo, “estarem mais bem preparadas para responder a eventos extremos futuros”.

O especialista David Peterson estudou os efeitos dos grandes incêndios, como os do Canadá, e concluiu que a nuvem de fumo provocada permaneceu vários meses na estratosfera, o que habitualmente só acontece em resultados das erupções vulcânicas e não dos fogos.

Andreas Stohl apresentou os efeitos de incêndios na Gronelândia, não em florestas, que não existem ali, mas no ‘permafrost’, o solo normalmente congelado das regiões árticas, mas que, com a subida da temperatura descongelam e podem registar fogos.

Em 2017, disse, “houve pela primeira vez um grande incêndio na Gronelândia”, embora muito menor que, por exemplo, aqueles do Canadá ou Estados Unidos, mas que preocupa os especialistas relativamente àquilo que poderá acontecer se fogos de grandes dimensões se registarem no futuro.

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