Incêndios: Estrangeiros querem continuar na região apesar das dificuldades nos apoios

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 14-04-2018

 A comunidade estrangeira afetada pelos incêndios de outubro de 2017 está com dificuldades em receber apoio para recuperar as casas. Porém, afirmam que querem continuar a viver na região, onde eram cada vez mais.

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No interior da região Centro, crescia a bom ritmo uma comunidade de estrangeiros que encontrou nos distritos de Coimbra, Viseu e Guarda um refúgio longe das cidades. Reabilitaram quintas e construíram casas, muitas vezes isoladas, no meio das montanhas e vales.

Hoje, procuram refazer as suas vidas e reconstruir as casas, mas alguns encontram pelo caminho dificuldades em conseguir um apoio do Estado.

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O inglês Maurice Watkins ainda não sabe se vai ter apoio ou não para reconstruir a casa que tinha à beira do rio Alva, construída com as suas próprias mãos aos longo dos 30 anos que já leva a viver em Portugal.

Por entre os escombros da casa, Maurice Watkins lamenta tudo o que perdeu.

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“Isto era um paraíso”, sublinha o inglês de 57 anos, que fugiu com as roupas que tinha, além do computador e da carrinha.

Para trás, ficaram diários, fotografias, animais, a sua horta, painéis solares, ferramentas de trabalho, um trator. “Tudo”, resume Maurice, que quando chegou àquele local perto de Vila Cova de Alva, há 27 anos, só tinha uma camioneta, uma enxada e uma serra.

“Eles dizem que me vão ajudar a fazer a casa, mas ainda não recebi nada, nem dinheiro para ajudar a comprar ferramentas. Seis meses e nada”, diz em português, criticando as informações que nunca chegam.

Maurice diz que está “traumatizado” com o que aconteceu a 15 de outubro e que, a cada dia, custa mais refazer a vida.

“Eu quero ficar, mas custa muito. A minha cabeça dá voltas. Tinha tudo e agora não tenho nada. Custa muito, mas tenho de continuar e gostava de ficar aqui. Quero ficar aqui”, vinca.

Tina Sas e o marido trocaram a Bélgica por Portugal há sete anos e há quatro que estão em Sandomil, aldeia no concelho de Seia, por onde também passa o rio Alva.

Construíram uma casa de madeira e viviam “sossegadinhos, sem patrão e com calma”, com os seus dois filhos, William e Mira, de oito e cinco anos, retirando o rendimento de trabalhos a partir da internet – Tina é tradutora e o marido designer gráfico.

Quando o fogo surgiu, a 15 de outubro, fugiram de casa com mochilas feitas com alguma roupa, computadores e uns brinquedos para as crianças.

Acreditavam que o fogo não destruísse a casa. “Foi tudo embora, toda a nossa vida”, disse à agência Lusa Tina Sas.

Depois do incêndio, a família ainda pensou em ir embora e voltar para a Bélgica. Sem apoios, foram os locais que a convenceram a ficar.

“As pessoas disseram-me: ‘Não vão embora. Gosto tantos de vocês, da vossa família e vivem aqui tão sossegadinhos’. E nós pensámos: ‘Ok, vamos tentar'”, contou.

A avó de uma colega da sua filha no jardim-de-infância disse que tinha uma casa há dez anos desocupada, na aldeia vizinha de Corgas.

“Ofereceu de forma grátis a casa. É a maior sorte que nós temos. Ofereceu uma casa para vivermos sem perguntar por dinheiro”, enaltece Tina, que, passados seis meses, não quer voltar ao terreno onde viviam – “faz-me muito mal sempre que volto lá”.

Já passaram quatro meses desde que foram viver para Corgas e, assegura, voltaram a ser felizes.

Lynn Mylou, de 35 anos, mudou-se de Amesterdão para a pequena aldeia da Cerdeira, em Arganil, onde encontrou uma comunidade que partilhava das suas ideias – um estilo de vida autossuficiente e ecologicamente consciente.

Criou uma casa de madeira e começou a desenvolver oficinas de permacultura.

Já recebeu o dinheiro dos apoios na agricultura, mas ainda está à espera de saber se terá apoio para a reconstrução da casa – contabiliza um prejuízo de 50 mil euros.

Apesar das dificuldades e burocracia que tem encontrado no terreno, Lynn prefere falar do futuro e das várias ideias que tem.

Quer criar uma residência artística, um espaço de alojamento local e, entretanto, já comprou um terreno de cinco hectares num vale.

“Estamos a falar de planos de reflorestação e de autossuficiência e de como realocar a produção para estas áreas. É importante atrair pessoas jovens para zonas rurais e trabalhar a terra com a natureza, em vez de contra”, sublinha Lynn.

Os pilares da sua nova vida longe da confusão de Amesterdão já estavam cimentados, mas, por causa do incêndio vai ter de voltar a reerguê-los.

No entanto, isso não demove a holandesa de 35 anos.

“Os incêndios trouxeram a oportunidade para crescermos. Tem sido traumático, por um lado, mas também trouxe novas ligações. Foi um ‘reset’ para podermos olhar para novas ideias”, resumiu.

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