Incêndios agravaram problemas das empresas

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 17-12-2017

Empresas e autarquias  assinalam a rapidez dos apoios disponibilizados pelo Governo, mas notam que os incêndios de junho em Pedrógão Grande agravaram os problemas da região.

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fogo

Em Figueiró dos Vinhos, um dos concelhos afetados pelos incêndios de 17 de junho, a empresa de exploração de madeiras Carvalhos foi das que mais prejuízos sofreu, em maquinaria destruída pelas chamas, que ficou calcinada em terrenos florestais. A empresa, fundada há 25 anos, já recebeu mais de 600 mil euros para repor o equipamento, no âmbito que de uma candidatura que financia a 85% a fundo perdido a reposição de atividade empresarial.

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“Foi tudo rápido. Apresentámos a candidatura no início de setembro. Demorou mais tempo conseguir reunir toda a documentação do que a aprovação”, disse à agência Lusa Maria do Céu Silva, que, por estes dias, assume a gestão da empresa, depois de o sócio-gerente ter sofrido um acidente de trabalho há três semanas e estar internado no hospital, e do irmão deste e um sobrinho terem morrido no incêndio de junho.

Maria do Céu explicou que o financiamento do Estado foi já aplicado na compra de duas máquinas – uma de corte e descasque de madeira, outra para estilha e biomassa – mas notou que as verbas apenas possibilitam a compra de material novo e a empresa assumiu a aquisição de um camião e um trator em segunda mão, necessários à atividade.

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“O problema agora é que não há onde colocar a madeira. As celuloses não recebem madeira com casca queimada e quando a vamos descascar, a madeira já com seis meses está ressequida e parte. E os parques que existem estão fechados, ou porque estão cheios, ou porque empresas [de produção de derivados, como ‘pellets’] que a recebiam também arderam nos últimos incêndios [de 15 de outubro]”, lamentou.

Já no limite entre os distritos de Leiria e Coimbra, junto à povoação de Campelo, na estrada que liga Castanheira de Pera a Penela, está localizado o Forte da Raposa, que fazia da localização a meia encosta da serra do Espinhal, num vale atravessado por uma ribeira, um dos ativos na sua atividade ligada aos desportos de aventura e ao turismo de natureza.

Fazia, porque agora, Carlos Pedro, o proprietário – que na noite do incêndio defendeu sozinho a propriedade contra as chamas que desceram a encosta “em três minutos” e viu os cedros, carvalhos e castanheiros que rodeiam o terreno de quatro hectares, serem uma ajuda preciosa contra as chamas que devastaram os eucaliptais em redor – olha para a paisagem queimada e admite que o otimismo se desvaneceu.

Embora os alojamentos que disponibiliza não tenham sido diretamente afetados pelas chamas, os equipamentos – entre eles uma via de ‘slide’ com 75 metros através do vale e os dois campos de ‘paintball’ – têm de ser requalificados. Carlos Pedro, 57 anos, viu ser-lhe aprovada uma candidatura no valor de 52 mil euros, mas faz contas à vida: “São 85% a fundo perdido, mas tenho de pagar o IVA a 23%, mais os outros 15% e não sei como”, revela.

Embora o projeto turístico de Carlos Pedro seja apontado como diferenciador pelas entidades oficiais – há dias recebeu a visita da comissária europeia para a Política Regional, Corina Cretu – o proprietário aponta para a paisagem, onde, ao lado de um eucalipto queimado, “já despontam três ou quatro, que no verão vão ter dois metros de altura e estão prontos para arder outra vez”.

Quando precisa de ajuda para as atividades, Carlos Pedro recorre a uma “bolsa de monitores” oriundos de Torres Vedras, face à ausência de recursos locais.

“Esta região precisava de polos de desenvolvimento. Mas quem é que quer vir para cá?”, questiona, exemplificando com dois estagiários, jovens que estiveram um ano no Forte da Raposa e saíram, um para o Algarve, outro para um emprego “mais próximo da casa dos pais”, com os quais reside.

Na autarquia de Pedrógão Grande, Bruno Gomes coordena o Gabinete Operacional de Recuperação e Reconstrução (GORR) e destaca a forma “fácil e simples” como as candidaturas aos apoios para empresas afetadas pelos incêndios têm vindo a decorrer, mas também a “extraordinária” atuação e apoio da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro.

“Está a ser uma oportunidade única para as empresas saírem do fogo e modernizarem a atividade”, afirmou Bruno Gomes, aludindo ao financiamento de 85% a fundo perdido.

Como aspeto negativo, o responsável do GORR assinala que as empresas mais antigas “não têm documentos administrativos do seu imobilizado”, criando constrangimentos na justificação do valor do bem, necessário à candidatura.

“Se tenho uma empresa que pede 100 mil euros, tenho de ter 100 mil euros de valor de imobilizado destruído. Mas se os carros forem velhos, a atividade for antiga, se calhar não consigo justificar mais do que 30 ou 40 mil euros e não vou receber 100 mil euros”, explicou Bruno Gomes.

Acresce que os apoios apenas incidem sobre a compra de material novo, “mas isso, todos os fundos comunitários, sempre exigiram equipamento novo”, argumentou.

Outros constrangimentos estão relacionados com empresas que não possuem o código de atividade correto relativamente à atividade que desenvolvem ou outras cujo imobilizado pertence, formalmente, a uma empresa do mesmo proprietário que fechou e a nova não “tem faturas do imobilizado que ali existia”.

No total, Bruno Gomes disse que foram recusadas, até ao momento, três candidaturas e que, do lote aprovado, existem desde pequenas candidaturas de seis ou sete mil euros, até uma que ascende ao máximo de 5,5 milhões, principalmente dos setores da madeira e derivados, mas também lagares de azeite, serviços vários e turismo.

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