Portugal

Filipe La Féria recorda Eunice Muñoz como atriz do instinto genial que leva consigo “muito da nossa vida”

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 15-04-2022

Eunice Muñoz entregou “o seu instinto genial” e “incomparável talento” a atores e público, levando assim, com ela, “muito da nossa vida”, disse o encenador Filipe La Féria, numa reação à morte da atriz, enviada à agência Lusa.

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“Hoje o pano de boca do Teatro desceu e as luzes apagaram-se. Fedra, Sarah Bernhardt, a Mãe Coragem, a Dama das Camélias agradeceram os aplausos e desapareceram no labirinto dos corredores dos camarins”, escreve Filipe La Féria, numa mensagem de reação, enumerando algumas das suas mais importantes personagens, interpretadas em 80 anos de carreira.

Eunice Muñoz morreu hoje, no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, aos 93 anos.

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“Muito da nossa vida Eunice levou com ela. A todos os atores e ao público de várias gerações, deixou o seu instinto genial, a sua alma e o seu incomparável talento. Ela leva consigo muito dos mais belos e emocionantes momentos das nossas vidas. Os seus olhos de deusa, a sua voz, o seu tão doce coração, o seu talento de fogo, a inteligência e sensibilidade de grande atriz”, escreve o encenador que a dirigiu em “Passa por mim no Rossio”, em 1991.

Pioneiro do teatro independente em Portugal, com a Casa da Comédia, que dirigiu durante 16 anos, Filipe La Féria trabalhou com companhias como a Rey Colaço-Robles Monteiro, o Teatro Estúdio de Lisboa e o Teatro da Cornucópia, tendo ficado conhecido por produções como “Maldita Cocaína”, “Amália” e “Passa por mim no Rossio”.

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Além deste musical, que esteve no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, e tinha em Eunice Muñoz uma das protagonistas, Filipe La Féria dirigiu-a igualmente em “A casa do lago”, de Ernest Thompson, em 2002, numa adaptação da peça celebrizada no cinema por Henry Fonda e Katharine Hepburn, com o realizador Mark Rydell.

Trinta anos mais cedo, em 1972, Eunice Muñoz e Filipe La Féria contracenaram em “As Criadas”, de Jean Genet, uma tradução de Luiza Neto Jorge, posta em cena no Teatro Experimental de Cascais, pelo encenador argentino Victor Garcia, com assistência de La Féria e Nuria Espert, hoje considerada “a grande dama” do teatro espanhol.

“Eunice nasceu de uma família de atores que deambulavam de terra em terra, num teatro desmontável pelas aldeias e vilas do Alentejo. Quando via o seu avô representar personagens dramáticas, a pequena Eunice assustava-se e fugia pelos campos. A sua mãe, Mimi Muñoz, tinha a sua Companhia de Teatro [Troupe Carmo], que já vinha dos seus avós”, recorda hoje La Féria.

O encenador acrescenta que “Eunice nasceu no palco e o palco seria o seu irrevogável destino”.

“A ele deu inteira a sua vida, a alma, o corpo, sempre arriscando e renovando-se em casa personagem que criava. Eunice tinha dentro de si vários heterónimos e uma sensibilidade que a fazia compreender os mistérios insondáveis do ser humano”, refere.

La Féria despede-se da amiga com um “obrigado” e um “até já”, descrevendo-a como “alegre, cómica, triste, filha ideal da Tragédia” – Eunice Muñoz, diz, “guardava no seu grande coração a estrela imortal do Teatro”.

O percurso de 80 anos de Eunice Muñoz, no teatro, soma mais de 120 peças, em perto de três dezenas de companhias, depois da estreia, em 28 de novembro de 1941, aos 13 anos, em “O vendaval”, de Virgínia Vitorino, no Teatro Nacional D. Maria II.

No cinema e na televisão, o seu nome está associado a mais de 80 produções de ficção, entre filmes, telenovelas e programas de comédia.

Recebeu mais de uma dezena de prémios, seis condecorações oficiais, que culminaram na Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em 2021. Em 1990, foi-lhe atribuída a Medalha de Mérito Cultural.

O luto nacional será decretado no dia do funeral da atriz, anunciou o Governo.

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