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Eucaliptos regressam a um território com feridas por sarar

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 15-06-2019

O incêndio que deflagrou há dois anos em Pedrógão Grande abriu feridas que as populações estão longe de superar, enquanto os eucaliptos se regeneram desordenadamente e voltam a dominar a paisagem.

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Esta é uma opinião partilhada, em declarações à agência Lusa, por habitantes dos três municípios mais atingidos pelo fogo de 17 de junho de 2017, Castanheira de Pera, Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos, alguns dos quais sofreram prejuízos materiais avultados e tiveram de enfrentar as chamas para sobreviver.

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“Perdeu-se uma oportunidade fabulosa de dar a volta a isto tudo. Caiu-se já na rotina e temo que já não vá acontecer”, disse Jorge David, residente na Castanheira de Pera.

Na tarde da tragédia, este funcionário público reformado, de 64 anos, estava no Torgal, a conviver com a família.

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O lugar foi evacuado e a sua mãe, na altura com 82 anos, teve de sair de casa com ajuda dos meios de socorro.

“O almoço ficou em cima da mesa até ao outro dia”, recordou.

Jorge David alertou que “as feridas abertas vão-se sarando”, as do corpo e as da alma, mas os moradores temem que outros fogos venham a ocorrer, devido às alterações climáticas e tendo em conta “ainda há áreas que não arderam”.

Também ao nível do emprego, “não aconteceu uma mudança”, afirmou.

No mesmo concelho, o acupuntor Pedro Kalidás, de 49 anos, reconhece que a situação “melhorou um pouco” ao nível da gestão de combustível nas faixas da responsabilidade das entidades públicas.

Todavia, nos terrenos privados, verifica-se “um desmazelo muito grande” e em geral as árvores queimadas ainda não foram removidas.

“Não apareceram investidores e a descentralização de serviços públicos para o interior não se vê”, disse, para lamentar que “o marasmo continue” quanto à criação de empregos nesta zona do distrito de Leiria.

A professora Deolinda Campos nasceu em Figueiró dos Vinhos, onde vive, mas tem “uma perceção maior do que se passa em Pedrógão Grande”, onde trabalha.

Neste município, “as feridas ainda estão bastante abertas” e a elas juntam-se polémicas e processos judiciais relacionados com o incêndio, donativos e reconstrução de casas.

“Em Figueiró, não se nota que tenha havido essa controvérsia”, mas em Pedrógão Grande “há um sentimento de vergonha e as pessoas evitam falar do assunto”, acrescentou.

Deolinda Campos, de 57 anos, salientou que “em termos emotivos” o incêndio “deixou marcas para a vida toda” nas populações afetadas.

Quanto à instalação de novas empresas, “está tudo muito parado”, admitiu.

Na sua opinião, os dois concelhos “têm investido na limpeza e tentado fazer o melhor” na reflorestação.

Com ligações afetivas a Escalos do Meio, Carlos Cristo, de 69 anos, não residia em Pedrógão Grande quando o fogo eclodiu na vizinha aldeia de Escalos Fundeiros.

Emigrou aos 13 anos com os pais para o Brasil e radicou-se em 2018 no município de Pedrógão Grande.

“Para modificar o presente e o futuro, não se percebe que esteja a acontecer alguma coisa”, declarou.

O reformado realçou que, apesar de “alguns rancores, ódios e situações pouco éticas”, verifica-se que no concelho “em geral as pessoas foram atendidas e houve uma reconstrução das casas”, no rescaldo de “uma experiência extremamente dramática”.

Entretanto, “não se nota que esteja a acontecer a reflorestação nos moldes diferentes que foram anunciados”.

“A região está verde, sim, mas tomada pelos fetos e pelos eucaliptos, que já têm novamente três metros de altura”, criticou Carlos Cristo.

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