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Estudo apresenta novas evidências do potencial invasor do eucalipto

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 18-03-2019

Um estudo realizado por investigadores de seis instituições de ensino superior mostra novas evidências do potencial invasor do eucalipto, depois de analisar os limites de 67 plantações no país.

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O estudo, que contou com a participação de nove investigadores, analisou os limites de 67 plantações, maioritariamente nos distritos de Portalegre e Santarém, tendo apresentado novas evidências sobre o comportamento invasor do eucalipto, disse à agência Lusa Ernesto de Deus, autor principal do artigo.

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“Em várias áreas de amostragem ao longo das bordaduras [os limites das plantações], contámos e caracterizámos os eucaliptos resultantes de regeneração natural, e verificámos se já possuíam estruturas reprodutivas”, tendo encontrado essas mesmas estruturas (flores ou fruto) em cerca de 08% das novas plantas de eucalipto nos limites das plantações.

Segundo o investigador do Centro de Ecologia Aplicada da Universidade de Lisboa, esta foi a primeira vez que se investigou fora da Austrália a presença de estruturas reprodutivas em ‘Eucalyptus globulus’ (a espécie mais comum em Portugal) originários de regeneração natural.

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Um “caso curioso”, nota, foi a equipa ter encontrado, nos limites das plantações, plantas muito pequenas, até pouco mais de um metro de altura, já com estruturas reprodutivas.

“Não se tinha conhecimento de que os eucaliptos fora da região nativa pudessem adquirir capacidade reprodutiva tão jovens, o que nos alerta para um maior potencial invasor da espécie em Portugal”, salientou o autor principal do estudo, que contou também com a participação de investigadores da Escola Agrária de Coimbra, da Universidade de Otago (Nova Zelândia), da Universidade de Trás-os-Montes e do Instituto Politécnico de Leiria.

Para além de analisar os limites das plantações, os investigadores fizeram também inspeções fora das plantações, tendo encontrado 641 eucaliptos até 76 metros de distância dessas plantações, a maioria em montado (53%) e em zona de mato (40%). Isso, sublinha, “pode ser explicado devido à predominância destes tipos de ocupação do solo na região e não devido à sua predisposição a serem colonizados por eucalipto”, sublinha.

“Concluímos que quer os ventos quer a presença de águas de escorrência podem ajudar à dispersão de eucaliptos”, disse Ernesto de Deus, salientando que mais de metade dessas plantas fora das plantações tinham já folhas adultas.

Para fazer face este comportamento do eucalipto, Ernesto de Deus considera que, “primeiro que tudo, importa reconhecer o caráter invasor do eucalipto”, notando que, mesmo no meio académico, “tem havido alguma resistência em assumir este facto”.

Para além dos incêndios desempenharem um papel importante na invasão do eucalipto, o abandono dos terrenos também é um fator a ter em conta, vinca.

A gestão dos eucaliptais pode, dessa forma, reduzir o potencial invasor do eucalipto, sendo necessário eliminar a regeneração natural desta planta, “em especial nos limites das plantações”, e garantir que as árvores não ultrapassam a idade do corte para impedir um maior potencial reprodutivo, sublinha.

No entanto, o investigador assume que a resolução do problema “ultrapassa a esfera do produtor florestal”, por dispersar para propriedades adjacentes.

“No atual contexto português, a dispersão do eucalipto para fora das plantações torna-se o problema de outra pessoa. Temos o exemplo da Tapada Nacional de Mafra, onde nunca se plantou um eucalipto. Em vários locais dentro da Tapada, surgiram grandes populações de eucalipto, a distâncias consideráveis das plantações circundantes”, exemplificou.

Para o investigador, é necessário continuar a estudar o potencial invasor do eucalipto no contexto português, reconhecendo que ainda “são poucos os investigadores em Portugal que se dedicam a este tópico” e que, apenas com “muito esforço”, têm conseguido “algum financiamento para investigação neste domínio”.

Em outubro de 2018, investigadores da Universidade e da Escola Agrária de Coimbra tinham identificado um comportamento invasor do eucalipto em várias áreas dos territórios afetados pelos incêndios de 2017.

Na Mata Nacional do Urso (entre os concelhos de Leiria e Figueira da Foz), junto a uma estrada, havia nove eucaliptos de grande porte, no meio de “um mar de pinheiros”. Após a passagem do fogo de 15 de outubro de 2017, os investigadores da Escola Superior Agrária de Coimbra Joaquim Sande Silva e José Gaspar contabilizaram, com recurso a imagens de ‘drone’, mais de duas mil plantas que tinham germinado numa área de cerca três mil metros quadrados à volta daquelas nove grandes árvores.

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