Coimbra

Enfermeiros, operacionais e médicos com taxa de infeção de 3% no CHUC

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 02-07-2020

Cerca de três por cento dos 6.393 profissionais de saúde do Centro Universitário e Hospitalar de Coimbra foram infetados pelo Sars-cov-2, segundo um estudo divulgado hoje pelo conselho de administração do CHUC, que refere serem os enfermeiros os mais afetados pela covid-19 por constituírem o “grupo mais exposto”, tendo também em conta as infeções entre médicos e assistentes operacionais.

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Incidência da infeção nos enfermeiros do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra infetados com covid-19 por semana entre 20 de março e 18 de junho. Dados e gráfico do CHUC.

O CHUC reflete num comunicado enviado ao Notícias de Coimbra alguns dados apurados num estudo, onde realça “as baixas taxas de incidência“. A incidência diz respeito à ocorrência de novas infeções num período de tempo e difere da taxa de prevalência que calcula a percentagem de infetados no total dos profissionais e ronda os três por cento (2,93%), correspondentes a 187 infetados em 6.393.

O estudo foi desenvolvido pelo Núcleo de Investigação em Enfermagem (NIE) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, sob a coordenação de António Marque e iniciou, em conjunto com os Serviços de Psiquiatria, Psicologia, Saúde Ocupacional e a Unidade de Investigação em Ciências da Saúde/Enfermagem, da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, um projeto de investigação transdisciplinar sobre o “impacto da covid-19 nos profissionais de Saúde do CHUC, implicações na gestão dos recursos humanos, na saúde e nas vivências pessoais”.

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Número de profissionais do CHUC infetados com covid-19 por profissão e incidência entre 20 de março a 18 de junho

Enfermeiros (Enf.) Assistentes Operacionais (AO) Médicos
Infetados (até 21/6) 112 44 31
Incidência por período 0,039 0,025 0,018

Dados e tabela do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, divulgados a 2 de julho 2020

“Na análise da evolução da incidência ao longo do tempo, constata-se que tanto os enfermeiros (grupo mais exposto), como os restantes profissionais, se infetaram quase exclusivamente nos meses de março e abril, quando a política de prevenção ainda não estava devidamente estabelecida e depois devido a situações inesperadas, sendo que as infeções não ocorreram nos serviços dedicados à COVID-19”, a funcionar no Hospital dos Covões.

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Os assistentes técnicos e técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica não estão expressamente referidos nos dados do CHUC, assim como não são contabilizados os prestadores dos diversos serviços nos hospitais de Coimbra.

O “absentismo relacionado com os casos de COVID-19 e o encerramento de escolas” teve também impacto nos serviços, refere a mesma fonte que divulga ter sido “necessário mobilizar 310 enfermeiros e 154 assistentes operacionais. Estes enfermeiros foram submetidos a 682 movimentos [de serviço] e os assistentes operacionais a 352”. Foram admitidos mais 58 enfermeiros e 54 assistentes operacionais no CHUC no período entre no período de 15 de março e 1 de junho.

Um dos objetivos deste estudo, lê-se no comunicado, é também “conhecer as vivências dos profissionais que estiveram a trabalhar em serviços dedicados à COVID ou que foram, eles próprios, infetados”.

Da “análise feita até ao momento, com 20 entrevistados, foi possível identificar cinco grandes temáticas”. Ao nível organizacional foi analisada “a importância do tempo para organizar os processos e as rotinas, para treinar procedimentos, integrar novos elementos, tendo sido identificada a experiência com doenças infecciosas como um fator chave. E ao mesmo temo foi estudada a liderança, sublinhando “a importância do envolvimento dos colaboradores nos processos de decisão, na preparação e contínua adaptação dos serviços, bem como a proximidade e confiança”.

A análise ao trabalho em equipa revelou que “os tempos de dificuldade promoveram mais união entre os diferentes intervenientes e uma maior necessidade dos profissionais se cuidarem mutuamente, nomeadamente na ajuda da gestão das emoções (stress, irritabilidade, ansiedade, choro), culminando numa maior valorização do trabalho em equipa, como uma forma muito mais efetiva de trabalho para todos”

O resumo do estudo apresentado hoje à imprensa destaca também as “muitas aprendizagens decorreram desta vivência na prestação de cuidados desafiante, sobretudo em termos de comunicação com o doente e familiares (por exemplo para combater a solidão e a ausência), à gestão da sobrecarga física e psicológica de prestar cuidados em condições extenuantes e extremamente difíceis, tanto sob o ponto de vista técnico como humano”

As experiências e vivências pessoais constituem a quinta temática do estudo uma vez que “marcaram indelevelmente a vida dos profissionais que se sacrificaram pessoal e familiarmente, trabalhando inclusive medicados para controlar febre e dores, ausentando-se das suas famílias por meses. As repercussões ficaram, notam-se ainda hoje, nomeadamente por situações de depressão, ou influência nas relações conjugais. Mas, apesar de todas estas dificuldades, os profissionais expressaram confiança e otimismo para o futuro e um elevado sentido de ética profissional.” – refere o comunicado do CHUC.

Testes a profissionais já foram contestados por médicos e enfermeiros

“Mais de 80% dos profissionais de saúde que tiveram Covid-19 já estão recuperados” disse na terça feira o Secretário de Estado da Saúde, depois de ter admitido em maio que era necessário “rever a estratégia de abordagem à testagem dos profissionais de saúde [assintomáticos]. Estamos numa fase de ouvir peritos, médicos nesta matéria para podermos, se assim o considerarmos útil, fazermos uma revisão da norma 13”, disse o secretário de Estado da Saúde.

A referida norma é a Orientação n.º 13/ 2020 da DGS que prevê o registo de automonitorização de sintomas compatíveis com COVID-19 por casa profissional de saúde “potencialmente exposto a SARS-CoV-2” que  deverá “registar, diariamente, a presença ou ausência de sintomas compatíveis com COVID-19” preenchendo um quadro de registo, assente em duas abordagens, nomeadamente alto e baixo risco de exposição.

Nos casos de alto risco, a norma refere que se um profissional de saúde foi identificado como contacto próximo de alto risco de exposição com doente com covid-19, devem ser ativados os procedimentos de vigilância ativa, durante 14 dias desde a data da última exposição, pela Autoridade de Saúde Local, ficando estes em isolamento profilático, com restrição para o trabalho, durante o período de vigilância ativa.

“Se um profissional de saúde foi identificado como contacto próximo de baixo risco de exposição com doente covid-19 devem ser ativados os procedimentos de vigilância passiva, durante 14 dias desde a data da última exposição. Estes profissionais não têm restrição para o trabalho, mas devem proceder à automonitorização com medição da temperatura corporal, duas vezes por dia, e estar atentos para o surgimento de sintomas”. E, se durante este período, desenvolver sintomas é efetuada a colheita de amostra, sublinha

Segundo denunciou o Sindicato Independente dos Médicos, em meados de maio, “os médicos e os outros profissionais de saúde mesmo com contactos próximos com doentes covid-19 positivos apenas têm sido testados se desenvolverem sintomas sugestivos de doença”.

 

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