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Coimbra

Edição 2019 do Citemor reforça a vocação produtora do festival

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 18-07-2019

O Citemor segue o curso do Mondego e liga Coimbra, Montemor-o-Velho e Figueira da Foz. O festival mais antigo do país, que tem início em Coimbra a 25 de Julho e termina a 17 de Agosto, propõe uma série de estreias e acontecimentos únicos.

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O programa apresenta um conjunto de propostas artísticas muito diversas, que implicam cruzamentos disciplinares e que estimulam relações entre as artes performativas e a fotografia, o cinema, o vídeo e a literatura. O festival desenvolve alguns dos eixos de programação e características que mais contribuíram para a sua singularidade, e para o lugar destacado que ocupa no contexto da criação artística contemporânea: residências artísticas, produção própria de acontecimentos irrepetívies, criações desenvolvidas em site specific em relação com o património edificado e natural da região.

O Citemor tem início a 25 de Julho com um primeiro bloco da programação a decorrer em Coimbra. Na Casa das Artes Bissaya Barreto, às 18h00, é apresentado o livro “DISSECAÇÃO DE UM CISNE”, de MIGUEL BONNEVILLE, com a presença do autor e do filósofo Pedro Arrifano. Esta edição reúne desenhos, fotografias intervencionadas, registo de performances e textos originais, criados por Bonneville, e corresponde à primeira fase de pesquisa para a criação do espectáculo “A Importância de Ser Georges Bataille” (co-produção Teatro São Luiz e Teatro Rivoli; residência artística em Montemor-o-Velho).

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Após a apresentação do livro, terá lugar a abertura dos LOOPS.LISBOA, resultado de uma parceria do Festival Temps d’Images e do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (MNAC), a que o Citemor está associado desde a primeira edição. Do concurso no âmbito da videoarte, a instalação apresenta as três obras indicadas pelo júri de selecção: “Período Azul” de MANÉ; “O Guarani (Direita ou Esquerda)” de LETÍCIA LARÍN e “Aquela Velha Questão do Som e da Imagem” de JOÃO BENTO, distinguido posteriormente pelo júri de premiação. LOOPS.LISBOA fica na Casa das Artes Bissaya Barreto, diariamente entre as 15h00 e as 19h00, até 3 de Agosto.
O primeiro espectáculo do programa, “FROM AFAR IT WAS AN ISLAND. DE PERTO, UMA PEDRA” de JOÃO FIADEIRO, decorre a 25 de Julho no Teatro da Cerca de São Bernardo, às 21h30.
 
“De perto, uma pedra” é uma nova abordagem de “From afar it was an island” que propõe exactamente aquilo que o título sugere: proporcionar ao espectador/visitante que olhe de perto (e por dentro) um trabalho que foi originalmente desenhado para ser olhado de longe (e por fora). Este movimento de re-visitação para ambientes in situ de obras originalmente desenhadas para palco, ou retomar e remontar a mesma matéria, mas em modo unplugged, lo-fi, libertando-a da tirania da narrativa que o aparato teatral obriga, é cada vez mais recorrente nas criações de João Fiadeiro. Ambas as peças são coreografadas com “gestos armazenados pelo cinema” numa apropriação de fragmentos de mais de uma centena de filmes.
Após o espectáculo de João Fiadeiro, atravessamos a Baixa de Coimbra até ao Salão Brazil para um encontro com BlackBambi (Mi̶g̶u̶e̶l̶ Bonneville), às 23:30. BlackBambi tem tido papéis principais em vários projectos musicais (Hex, Ur Ma, BlackSugu e GoldenBambi), para além do projecto a solo que liga a música electrónica e as performativas. Compositor, vocalista e produtor de música low-fi, hipnótica e dissonante, impossível de se separar de um singular carácter visual, BlackBambi é também MC e DJ, tendo colaborado em diversos projectos ligados ao cinema, à performance e às artes visuais.
Na sexta, 26 de Julho às 21:30, no TAGV, o festival apresenta “OTRA LÍNEA – TODO TIEMPO PRESENTE CONSTRUYE UN PASADO”, de IVÁN HAIDAR.
 
Nesta performance, Haidar duplica-se e o seu eu real mistura-se com a sua versão virtual de tal forma que ambos acabam por confundir-se em relação ao mundo de que são provenientes. Este diálogo consigo mesmo é uma busca constante de alternativas para estar em relação com tudo o que o rodeia, quando está só. O projecto teve início em 2016 a partir de uma residência artística no Atelier Re.Al, em Lisboa, com Carolina Campos e João Fiadeiro.

No dia seguinte, sábado 27 de Julho, o festival desloca-se para Montemor-o-Velho. PAULA DIOGO, que fez já uma primeira residência de criação na vila, com Estelle Franco e Agapi Dimitriadou lança as bases de um projecto que desenvolverá ao longo dos próximos dois anos.

 
Terra Nullius é um termo criado pela lei internacional para definir territórios que não pertencem a ninguém e etimologicamente significa terra de ninguém. Mas Terra Nullius “encerra também um significado poético. Uma ideia de território inexplorado e não reclamado, uma espécie de oásis de liberdade onde seria possível recomeçar e repensar a nossa ideia de sociedade. Interessa-nos com este projecto atravessar linhas de pensamento que proponham uma visão crítica da nossa sociedade contemporânea, reflectindo sobre a sua génese e a sua falência permanente.”

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Na segunda semana o festival chega à Figueira da Foz, onde SÓNIA BAPTISTA vai apresentar “TRISTE IN ENGLISH FROM SPANISH (REDUX)”, a 1 e 2 de Agosto, na Garagem Autopeninsular.
 
A tristeza é o motor da criação deste espectáculo que é teatro e dança em diálogo com várias outras artes, e que não é, de todo triste, pelo contrário. Encarar a tristeza para viver melhor, a tristeza como alavanca para a saúde, o uso da tristeza para um mundo melhor, a tristeza como ferramenta de intervenção e como algo transformador, o direito à tristeza como algo positivo e necessário. Esta peça, que afinal até é divertida, nasceu da tristeza que a criadora sentia sobre questões como a opressão das mulheres e a exploração dos recursos do nosso planeta, e aborda um assunto muito difÍcil, a depressão, tema tabu para os portugueses que são dos maiores consumidores de antidepressivos. “Quanto mais se foge de uma coisa, mais perto ela permanece, quanto mais se evita pensar em coisas tristes, mais elas invadem o pensamento”, conclui a autora.

Precisamente no dia em que arranca o festival, tem início nos estúdios da Companhia Clara Andermatt, em Lisboa, o workshop de formação e pesquisa teatral orientado por JOHN ROMÃO e SILVIA COSTA.

 
Os participantes integram uma proposta performativa desenvolvida a partir de “AS TENTAÇÕES DE SANTO ANTÃO”, de Gustave Flaubert, com uma apresentação pública agendada para 3 de Agosto, às 22:30, na Sala B, em Montemor-o-Velho. “Este trabalho de pesquisa e de questionamento mergulha no discurso visionário de Gustave Flaubert e no poder da imaginação que emana da sua obra “La Tentation de Saint Antoine”. O interesse desta figura, muito estudada na história da arte, relaciona-se com uma procura do sentimento de culpa, de consciência pessoal, de ética de cada um, cuja manifestação no nosso tempo parece precisar de uma renovação, de um novo posicionamento.”

Quando o festival arranca em Coimbra, RODRIGO GARCÍA já estará em residência com a sua equipa artística para estrear “PS/WAM – Piano Sonatas Amadeus Wolfgang Mozart”, a 8, 9 e 10 de Agosto no Pavilhão Multiusos da Carapinheira.
 
Rodrigo Garcia é um dos artistas mais reconhecidos no circuito internacional das artes performativas. Idolatrado por uns e odiado por outros, ninguém fica indiferente a este criador, com um percurso que se cruza com o do Citemor que programou várias obras suas e produziu “A História de Ronald, O Palhaço da McDonald’s” em 2003. É a primeira criação de Rodrigo García, a quem associamos o humor corrosivo e a crítica feroz à sociedade de consume, após alguns anos a dirigir o CND de Montpellier. “PS/WAM – Piano Sonatas Amadeus Wolfgang Mozart” encontra-se em desenvolvimento, tendo já cumprido um primeiro período de residência no Matadero Madrid. “Perante tanta estupidez, como não propôr as sonatas de Mozart? Notas musicais. Contra as mentiras. Só as notas musicais.”, propõe Rodrigo García.

“ANATOMIA DE UMA IMAGEM” é a primeira incursão autoral de SUSANA PAIVA nas artes performativas, constituindo-se como um projecto experimental que alia a fotografia à performance, com vista ao questionamento do papel do fotógrafo nas artes performativas.

 
Recorrendo a um dispositivo simples, entre atelier e sala de estar, a autora convida o público a juntar-se à volta da mesa e a integrar a reflexão sobre a sua prática, recorrendo à manipulação em tempo real das suas matrizes fotográficas – negativos e dispositivos – enquanto discursa entre realidade e ficção sobre as memórias e possibilidades da fotografia, particularmente nas artes performativas, epicentro da sua criação fotográfica durante mais de 20 anos. Susana Paiva, responsável pelo registo fotográfico do Citemor desde a década de 90, apresenta-se agora como autora nos dias 9, 10 e 17 de Agosto, entre as 20h00 e as 21h00, na Rua dos Combatentes da Grande Guerra 22, em Montemor-o-Velho.
No final de Julho o TEATRO DO VESTIDO instala-se em residência na Figueira da Foz para preparar a estreia de uma peça construída a partir do estudo da actividade de exploração salineira no estuário do Rio Mondego, um projecto artístico desenvolvido ao longo dos últimos dois anos sob a direcção de Joana Craveiro.
 
MÃOS GRETADAS (AINDA ÀS VOLTAS COM O SAL) estreia a 15 e 16 de Agosto, às 22h30, no Núcleo Museológico do Sal na Figueira da Foz.
A bailarina e coreógrafa ROCÍO MOLINA, que o festival apresentou em Junho, na Figueira da Foz, encerra o festival em Montemor-o-Velho a 17 de Agosto.
 
A artista regressa para uma residência de criação, em que desenvolverá um site specific para a sua série designada “IMPULSOS”, um conjunto de performances em que se lança na conquista de espaços e situações improváveis: um parque, uma praça, a margem de um rio, um museu, espaços públicos ou privados, improvisando e descobrindo novos caminhos, lançando as sementes de uma próxima criação.

A organização do festival salienta que o Citemor não é apenas uma mostra de espectáculos ou uma selecção de propostas artísticas para partilhar com os públicos.
 
O programa deste Verão vem sublinhar a vocação produtora do projecto e consagrar Montemor-o-Velho como “lugar de criação”.
 
“O projecto, pelo seu carácter e especificidade, vem a cumprir vários papeis em diversos planos. Por um lado, a partir do programa de residências de criação (área em que foi pioneiro), promove a pesquisa, a experimentação, a criação e a inovação artísticas. E, produzindo novas obras, vem dar continuidade a um contributo já histórico para a edificação de um repertório contemporâneo. Por outro lado, numa perspectiva local e regional, o festival é reconhecidamente um factor decisivo na identidade da vila, que contribui para o desenvolvimento e coesão do território. São 40 anos de uma prática que a cada edição acrescenta significado e questionamento, mas que é também geradora de discurso”, conclui a organização do CITEMOR.

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