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Covid-19: Presidente do Brasil diz que jornalistas têm “menos chance de sobreviver” à doença

Notícias de Coimbra | 4 anos atrás em 24-08-2020

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, voltou hoje a atacar os profissionais da imprensa, afirmando que jornalistas ‘bundões’ (pessoa de mau caráter ou covardes) têm menos probabilidades de sobreviver à covid-19.

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O chefe de Estado, que já contraiu a doença e que se encontra curado, fez a polémica declaração durante um discurso em Brasília, capital do país, num evento denominado “Brasil vencendo a covid-19”.

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A referência à imprensa deu-se quando mencionou um episódio em que salvou um colega quando estava no Exército, na década de 1970.

“Era um jovem aspirante do Exército brasileiro [em 1978 quando salvou um colega], tinha 23 anos, sempre fui atleta das Forças Armadas. Aquela história de atleta, que o pessoal da imprensa leva para o deboche [escárnio], mas quando pega [covid-19] num ‘bundão’ de vocês, a chance de sobreviver é bem menor”, disse Bolsonaro, no Palácio do Planalto, sede do Governo em Brasília.

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“Só sabem fazer maldade, usar a caneta com maldade, em grande parte. Há exceções, como aqui o Alexandre Garcia [jornalista que trabalha no canal CNN Brasil]. A chance de sobreviver é bem menor do que a minha”, acrescentou o chefe de Estado.

As declarações de Bolsonaro surgiram um dia depois de ter ameaçado agredir fisicamente um jornalista da rede Globo.

No domingo, ao ser questionado pelo repórter sobre cheques de Fabrício Queiroz – um ex-assessor investigado por desvio de dinheiro público juntamente com o filho mais velho do Presidente brasileiro -, que foram depositados na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, sem nenhuma explicação, Jair Bolsonaro respondeu com uma ameaça.

“Vontade que tenho é encher a sua boca de porrada”, disse o Presidente brasileiro ao repórter d’O Globo, durante uma visita à catedral de Brasília.

Face à ameaça, o jornal O Globo emitiu um comunicado, repudiando “a agressão do Presidente Jair Bolsonaro a um repórter do jornal que apenas exercia a sua função, de forma totalmente profissional”.

“Tal intimidação mostra que Jair Bolsonaro desconsidera o dever de qualquer funcionário público, não importa o cargo, de prestar contas à população. Durante os governos de todos os presidentes, O Globo não se furtou a fazer as perguntas necessárias para cumprir o papel maior da imprensa, que é informar os cidadãos. E continuará a fazer as perguntas que precisarem ser feitas, neste e em todos os governos”, acrescentou a nota.

De acordo com denúncias publicadas nos últimos dias por diferentes meios de comunicação social do Brasil, o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz fez entre 2011 e 2016 cerca de 20 depósitos na conta bancária de Michelle Bolsonaro no valor total de 89 mil reais (cerca de 13.300 euros).

Em resposta ao episódio de domingo, internautas, incluindo dezenas de figuras públicas, começaram uma campanha que está hoje entre os assuntos com mais menções na rede social Twitter, que exorta o Presidente brasileiro a responder à pergunta que motivou a ameaça.

Entidades ligadas ao jornalismo e à liberdade de imprensa têm questionado o Governo brasileiro sobre o tratamento dado aos profissionais da área.

A organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou nos últimos meses o elevado número de ataques feitos por Bolsonaro aos meios de comunicação e à liberdade de imprensa.

De acordo com um estudo da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), os ataques a jornalistas no Brasil, incluindo assassínios, agressões e ameaças, aumentaram 54,07% no ano passado: de 135 casos em 2018, para 208 casos em 2019.

A Fenaj registou pelo menos 121 declarações públicas feitas por Bolsonaro no ano passado nas quais o chefe de Estado atacou ou desacreditou jornalistas ou meios de comunicação social do país.

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