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Consumidores queixam-se de aparelhos auditivos que não conseguem usar nem devolver

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 29-09-2019

A venda de aparelhos auditivos através de anúncios, por telefone ou em casa motivou um número crescente de queixas à associação de defesa do consumidor Deco, na maioria relacionadas com dificuldades na adaptação e na devolução dos dispositivos.

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Muitas das situações que os consumidores reclamam prendem-se com a adaptação ao dispositivo e isso acontece porque “a venda foi feita à distância” e não foram realizados exames para se encontrar um aparelho adequado ao problema de saúde, disse à agência Lusa a jurista Ingride Pereira, do gabinete de apoio ao consumidor da Deco.

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Há também reclamações relacionadas com os contratos de crédito e a dificuldade de o consumidor devolver o aparelho como relatam alguns casos divulgados pela Deco à Lusa.

João (nome fictício) comprou no início de maio dois aparelhos auditivos, após uma consulta realizada em sua casa por técnicos que lhe disseram “várias vezes” que poderia devolver os dispositivos caso não se adaptasse.

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Depois de experimentar várias vezes os dispositivos na primeira semana, João percebeu que não conseguia adaptar-se. “Provocavam-me dores de cabeça, tonturas, emitiam um grande ruído, não conseguia estar com eles mais do que cinco minutos”, conta na reclamação.

Ligou para a loja para os devolver, mas esta enviou uma técnica a sua casa que ajustou o aparelho e lhe disse novamente que os poderia devolver. A situação repetiu-se por cinco vezes sem que João tivesse conseguido rescindir o contrato.

Manuel (nome fictício) também se deparou com uma situação semelhante. Conta que um comercial se dirigiu a sua casa e deixou uns aparelhos auditivos que não consegue devolver.

“Não assinei nenhum contrato. Agora deparo-me com uma fatura de 3.350,00 euros”, lamenta Manuel, dizendo que tem 84 anos e não está na posse de todas as suas faculdades.

A jurista da Deco disse que muitos consumidores só percebem que assinaram um contrato de crédito quando chegam à Deco e apresentam a documentação.

“O consumidor identifica o problema que tem e os vendedores tentam encontrar um produto que irá resolver o seu problema, mas muitas vezes não o resolve e traz mais dores de cabeça ao consumidor por ter assinado e acreditado naquelas informações”, sublinhou.

Por isso, defendeu Ingride Pereira, “os consumidores devem ter algum cuidado” na compra destes aparelhos através das vendas à distância, porque se trata de um “problema de saúde, de audição, em que têm de ser feitos exames”.

Além disso, têm um “um custo elevado” e se o consumidor os quiser experimentar não se deve esquecer que tem um prazo de 14 dias para refletir” e que deve tomar uma decisão antes desse prazo.

No atendimento diário, Ingride Pereira tem-se apercebido de que há “muito mais consumidores” a procurar a associação por causa destes aparelhos auditivos publicitados em anúncios e vendidos pelo telefone e ao domicílio.

O vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cabeça e Pescoço, Pedro Escada, também alertou para os riscos da compra destes aparelhos sem a realização de exames numa casa especializada.

Pedro Escada explicou que quando um doente faz os exames de audição com os aparelhos postos dentro de uma cabine sem ruídos, sem interferências, muitas vezes fica muito satisfeito e compra a prótese.

Mas o que, muitas vezes, acontece é que devido a limitações relacionadas com a doença do ouvido, os sons amplificados pelos aparelhos tornam-se “muito intensos e muito incomodativos” para o doente, que percebe que “a prótese que dava muito resultado no laboratório” não dá na vida real.

O doente percebe que “ainda está pior”, com dores de cabeça, e deixa de usar a prótese, procurando ajuda ao médico, disse o otorrinolaringologista.

Nessa altura, “o doente volta à casa de próteses”, mas se esta for “uma daquelas más, tentam ajustar o aparelho e convencer o doente que é mesmo assim” e passa o tempo legal para devolver o dispositivo.

Numa casa “boa”, o doente devolve o aparelho e apenas tem de pagar o molde do dispositivo e a consulta, disse Pedro Escada.

A Deco explicou que os aparelhos auditivos são diferentes dos amplificadores anunciados em jornais e na televisão, uma vez que estes ampliam o som na sua totalidade, independentemente das frequências que estejam em perda.

Já os aparelhos são parametrizados para a perda específica do utilizador para corrigir a perda auditiva nas exatas frequências e intensidades.

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