Justiça

Comandante dos bombeiros de Pedrogão Grande Augusto Arnaut ficou “aliviado” com a absolvição

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 13-09-2022

O comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, arguido no processo para determinar eventuais responsabilidades criminais nos incêndios de junho de 2017, admitiu hoje estar mais aliviado, após a absolvição pelo Tribunal de Leiria.

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“Ao fim destes cinco anos, estou”, disse Augusto Arnaut, respondendo à pergunta se se sente mais aliviado, depois de ouvir a decisão do coletivo de juízes, que o absolveu de todos os crimes por que estava acusado.

Visivelmente emocionado, até porque recebeu um grande aplauso e abraços de muitos bombeiros que marcaram presença no dia do acórdão do julgamento sobre os incêndios de Pedrógão Grande, o comandante salientou que esta era a decisão pela qual esperava, até porque “tudo fez” para que o desfecho fosse diferente.

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“Não nos podemos esquecer das vítimas que houve, mas tudo fizemos” para que não se verificassem vítimas.

“Não só eu, mas todos os bombeiros que estiveram naquele teatro de operações. A eles, o meu respeito, às vítimas, aos seus familiares e a todos aqueles que ficaram sem bens. Mas principalmente às vítimas, todos nós, bombeiros, tudo fizemos para que isso acontecesse, mas não foi possível, a natureza prevaleceu”, acrescentou Augusto Arnaut.

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Perante as dezenas de bombeiros que hoje marcaram presença em Leiria para fazerem a guarda de honra ao comandante, Arnaut considerou este ato “grandioso”.

O bombeiro preferiu não apontar outros possíveis arguidos que ficaram de fora deste processo, optando por afirmar que é necessário “trabalhar em conjunto e não ver quem é culpado ou não”.

“Desde 2017 para cá temos assistido a incêndios violentos. Temos é que procurar arranjar outros meios e não andar aqui a procurar o culpado”, reforçou.

Augusto Arnaut acrescentou que, por vezes, “a natureza prevalece” e “não é só com meios que se combate”.

“Temos de antecipar tudo o que está a montante, não é só depois culpar o combate. Quando se chega ao combate, quer dizer que tudo a montante falhou. Temos de nos sentar e chegar, entre todos, a uma conclusão, para que isto não se repita”, destacou.

Sobre uma eventual demissão do comando dos bombeiros de Pedrógão Grande, Arnaut não quis revelar o que irá fazer, apenas afirmou que a “carta está feita, mas não quer dizer que seja para se demitir”.

Filomena Girão, advogada, evidenciou a “assinalável coragem de um homem que sujeito a tudo isto continuou em mais de cinco anos a comandar esta corporação de bombeiros, com a mesma coragem, a acorrer a todos os incêndios a que era chamado”.

“Esta coragem é absolutamente assinalável. Estamos de parabéns por termos excelentes bombeiros e estou grata por todo o apoio que sempre nos deram”, acrescentou a advogada de Augusto Arnaut.

A jurista considerou ainda que o tribunal “acolheu aquela que era a verdade” que sempre defendeu.

“Nesse sentido, não foi uma surpresa. Este acórdão vem no sentido do que sempre defendemos e que estamos convictos. Acho que hoje é um dia feliz para o país, para nós, portugueses, por termos a certeza de que os bombeiros podem doravante voltar a confiar na justiça, porque se fez justiça. Se calhar há uma única pessoa para quem não se fez justiça absoluta, que é para o comandante”, disse.

Para Filomena Girão, “estes cinco anos foram de grande sofrimento e de angústia e resta perceber se podiam e deviam ter sido evitados e como podiam e deviam ter sido evitados”.

Abordando o sofrimento que o comandante viveu, a advogada salientou que “basta que alguém se ponha na pele do comandante Arnaut e depois do que hoje foi concluído pelo tribunal, o comandante Arnaut mereceu desde o início parabéns e não este processo a que foi sujeito até agora”.

Sobre um eventual pedido de indemnização, Filomena Girão disse que é preciso “conversar com calma” e ler o acórdão, que “é muito complexo”.

“Temos de perceber que estamos a viver cada vez mais uma justiça de classe. Esta justiça que foi possível fazer aqui é uma justiça cara, a que poucos de nós podem aceder. Foram cinco anos, milhares de horas de trabalho, para além do sofrimento todo a que o comandante Arnaut não pode ser poupado. Agora, este desfecho, apesar de tudo, é um desfecho que nos dá esperança”, acrescentou.

Filomena Girão adiantou que as mortes que ocorreram na EN 236-1 são “um problema de todos”.

“Foram aquelas vítimas, mas podemos ser nós. Metade das pessoas estavam ali de passagem. Lamento as tragédias que aconteceram naquele dia, mas penso que neste tribunal, com as pessoas que estavam aqui constituídas arguidas, não podia ter sido feita melhor justiça do que aquela que foi feita hoje. Só podia ter sido feita melhor justiça se ela tivesse sido mais célere, como deveria ter sido”.

Augusto Arnaut, de 54 anos, foi julgado por 63 crimes de homicídio e 44 de ofensa à integridade física, 12 dos quais graves, todos por negligência.

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