Economia

CES a crise!

Notícias de Coimbra | 10 anos atrás em 11-12-2013

 Os participantes, alguns antigos ministros, num debate em Lisboa manifestaram hoje dúvidas sobre a razoabilidade das políticas económicas seguidas pela União Europeia e consideraram que o preço a pagar por Portugal é excessivo em relação aos benefícios.

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Num debate promovido em Lisboa pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, no âmbito da apresentação de um relatório sobre a crise que se vive no país, os antigos ministros Vieira da Silva (PS) e Silva Peneda (PSD), e os professores João Ferreira do Amaral e Isabel Guerra afirmaram-se pessimistas quanto ao rumo do país e o seu futuro.

Ao longo do debate sobre o relatório “Anatomia da Crise: identificar os problemas para construir as alternativas”, do Observatório sobre Crises e Alternativas (do CES), os participantes falaram de alternativas e discutiram as causas da atual crise. “Foi a ganância do sistema financeiro que levou a esta situação”, disse Silva Peneda, atual presidente do Conselho Económico e Social.

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O economista João Ferreira do Amaral começou por dizer que a situação em que Portugal vive é mais grave do que se diz e acrescentou que o país “está numa situação de não sustentabilidade”, seja financeira, seja social, seja geográfica (envelhecimento da população e emigração) e seja ainda política, porque vai ter “uma soberania limitada” até baixar a dívida pública para 60 por cento do PIB, o que vai demorar “20 ou 30 anos”.

Aliás, tal como a Grécia, o país vive “uma situação abstrusa” que é a de “uma economia não competitiva com uma moeda que se vai valorizando”, disse o professor, que há muito tempo vem defendendo a saída de Portugal do euro.

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É que, explicou, com uma moeda forte (como o euro) nunca será rentável investir em Portugal. Os estaleiros de Viana do Castelo estariam noutra situação com uma moeda mais fraca, exemplificou.

Silva Peneda falou de uma crise que mostrou que “os mercados por si só não são capazes de regular” a economia, e que é global e que não tem soluções globais para a combater “enquanto o sistema político estiver capturado pelo sistema financeiro”.

O antigo eurodeputado e ministro dos governos de Cavaco Silva lamentou também que o acordo com os financiadores estrangeiros (troika) tenha provocado “tanta dor” sem que os resultados sejam palpáveis. “Um programa com um horizonte temporal de dois anos não resolve nada, precisamos de 10 anos” para conseguir a “estabilidade das contas públicas, o crescimento económico e a reforma do Estado”, sintetizou.

José Vieira da Silva, ministro nos governos de José Sócrates, também não foi partidário das políticas económicas europeias, dizendo mesmo que há o risco de falharem, com “consequências dramáticas para o futuro da Europa”. E depois, acrescentou, as condições para o apoio financeiro externo “mereciam ser discutidas”.

Vieira da Silva recordou que entre os anos 2000 e 2008, quando a dívida externa evoluiu, a procura interna cresceu oito por cento, quando a da Alemanha cresceu quatro por cento, a de Espanha 33 por cento, a da Grécia 35 e da Irlanda 38.

Vieira da Silva apelidou de “fenómeno” uma economia que se endivida quando tem uma procura externa “quase estagnada”, e disse não acreditar que baixar salários aumente as exportações. Aliás, acrescentou, “não há ninguém hoje que defenda a necessidade de reduzir salários”.

Na mesma linha, afirmou Silva Peneda: “esgotou-se o modelo que se seguiu até agora”. E depois Ferreira do Amaral acrescentou: o programa (de apoio externo) está “mal feito”, a ‘troika’ demonstrou incapacidade técnica e “os sacrifícios têm sido brutais para um êxito mínimo”.

De acordo com o relatório do CES as alterações à legislação laboral introduzidas em 2012 aumentaram os ganhos das empresas entre 2,1 e 2,5 mil milhões de euros, em linha ou acima do previsto com a estudada mudança à TSU (Taxa Social Única).

 

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