Carvalheira Pequena tenta sobreviver ao “fim do mundo”

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 06-07-2017

Na aldeia de Carvalheira Pequena, no concelho de Pedrógão Grande, os efeitos devastadores do incêndio de 17 de junho saltam à vista de quem atravessa aldeia – casas, viaturas e olivais destruídos pelo fogo.

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carvalheira pequena

Não houve mortes na aldeia, ao contrário do que aconteceu nas localidades vizinhas de Nodeirinho e Pobrais, mas o cenário ainda arrepia o visitante, com o negro da terra queimada e o amarelo das folhas das árvores por todo o lado.

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Manuel Rodrigues e Odina Godinho, de 82 e 76 anos, respetivamente, perderam a casa de habitação em que residiam, mas restou-lhe uma antiga habitação familiar que dá para se acoitarem.

“Tem havido muita colaboração e promessas de ajuda, mas enquanto não vier o apoio, não acredito”, diz o octogenário, que, contudo, mostra-se esperançado em receber alguma ajuda para recuperar a casa.

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Sentados debaixo de uma parreira que escapou às chamas, e depois de terem recebido duas técnicas da Segurança Social, o casal contou à agência Lusa que o vento no dia do fogo “não tinha explicação” e que as tentativas para proteger a habitação foram infrutíferas.

“Parecia o fim do mundo, só havia lume e fogo”, sublinhou Manuel Rodrigues, antigo lubrificador numa empresa de Figueiró dos Vinhos, lamentando que não tivesse existido bombeiros para os socorrer nas horas de aflição, embora compreenda que a falta de comunicações tenha “atrapalhado” a coordenação no combate.

Uns metros mais abaixo, arderam mais duas casas que “ainda estavam em nome do pai, que já faleceu, e tinham sido arranjadinhas há 15 anos”, desabafa Deonilde Oliveira, de 68 anos, que “aflita” com o excesso de fumo fugiu de carro até à Graça, passando por zonas críticas.

“Nem sei por onde andei. Só pedi a Deus que me desse forças para escapar”, recorda esta mulher, viúva, que sofre de problemas cardíacos e que estava sozinha em casa.

Só de madrugada, cerca das 04:00 do dia 18, é que Deonilde Oliveira conseguir contactar os filhos e voltar a casa, que, “por milagre, não ardeu, pois o fogo limpou tudo à volta, mas a mudança de vento deve-a ter salvo”.

Quanto à recuperação das casas da família, que tinham “muito valor lá dentro, “só se derem uma ajuda, porque sozinha não” será “capaz de as recuperar”.

Na parte cimeira da aldeia, uma antiga fábrica de blocos ficou totalmente destruída, juntamente com várias viaturas do proprietário que é madeireiro e que ficou sem um camião semirreboque, dois veículos pesados, uma máquina retroescavadora e um automóvel.

Sem memória de um fogo daquela dimensão, Manuel José David, de 88 anos, sogro do empresário, salienta que os prejuízos ultrapassam os 300 mil euros.

“Nunca vi nada como isto. Era uma coisa que andava mais do que o carro mais rápido do mundo”, enfatiza o idoso, que estava sozinho em casa quando as chamas impiedosas irromperam por toda a aldeia.

Apesar da idade, Manuel José David ainda tentou apagar alguns focos de incêndio, mas perante cenário tão dantesco acabou por se refugiar na sua habitação e esperar que o pior passasse, não conseguindo evitar que a sua garagem e a viatura que estava no interior ardessem por completo, bem como 40 ovelhas que tinha num curral.

Noutro ponto da aldeia, encontra-se mais um carro calcinado pelas chamas. Os olivais e as videiras também não escaparam à fúria devastadora das chamas, tal como a placa que indica o nome da aldeia, que se encontra totalmente retorcida pelo calor.

O incêndio que deflagrou em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos e mais de 200 feridos.

As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra e por Penela, consumindo mais de 50 mil hectares de floresta.

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