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Bolsonaro e uma filha de oito anos fixaram ‘mestre’ brasileiro do improviso em Coimbra

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 anos atrás em 17-06-2022

O presidente Jair Bolsonaro, a situação social no Brasil e uma filha de oito anos levaram o ator e ‘mestre’ do improviso teatral, Zeca Carvalho, a deixar aquele país sul-americano e a fixar-se em Portugal, contou o próprio.

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O ator e encenador, de 51 anos, natural do Rio de Janeiro, possui uma carreira profissional de mais de 30 anos ligada à representação, do cinema às novelas e ao teatro de improviso. É também professor universitário, formador noutros graus de ensino e detentor de um doutoramento em teatro, com um segundo em desenvolvimento na Universidade de Coimbra.

Apesar da sua carreira no audiovisual “estar num momento muito bom no Brasil”, Zeca Carvalho decidiu vir para Portugal, em 2018, onde esteve quase dois anos, para fazer um pós-doutoramento em Lisboa e regressar em 2021 para se fixar em Coimbra, onde reside atualmente e dinamiza uma nova companhia de teatro do improviso.

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“Vir para Portugal não teve nenhuma relação com a profissão. Foi uma escolha de ‘eu não aguento mais viver naquele país’, eu não quero que a minha filha de oito anos cresça sob a mira de uma arma, eu não quero ver um nazista no poder, porque Bolsonaro é presidente do país e comprovadamente nazista”, disse Zeca Carvalho à agência Lusa.

“E eu não quero um país em que os povos originários, os indígenas, são mortos, são assassinados, eu não quero viver num país que está desmatando a Amazónia, eu não quero viver nesse país e essa foi a minha escolha”, enfatizou.

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Aquando da sua primeira passagem por Portugal, Zeca Carvalho descobriu que não havia, na altura, qualquer levantamento sobre os grupos de teatro do improviso no ativo em Portugal.

“Acabei por fazer esse trabalho para descobrir que a improvisação portuguesa estava concentrada entre Lisboa, Queluz e Sintra, que são parte da grande Lisboa. E, nos finais de 2019, foi criado mais um grupo no Porto, a Ervilha no Topo do Bolo, com o qual também tenho trabalhado”, afirmou.

Ilustrando, com uma gargalhada, a representação territorial do teatro do improviso em Portugal como “as duas bossas do camelo” de Lisboa e Porto, de regresso ao Brasil Zeca Carvalho prometeu “que voltaria, um dia, para tentar desenvolver a improvisação na região Centro”.

Questionado pela Lusa se já se pode falar de um improviso marcadamente português e se há um país no mundo onde o teatro do improviso se destaque em relação aos demais, Zeca Carvalho considerou “muito difícil” que exista um país “onde as pessoas digam que são os melhores de todos no improviso”.

“O que a minha pesquisa de campo revelou foi que o teatro de improviso português está muito avançado, não deixa nada a dever aos demais países. Existem grupos com identidades específicas, muito bem desenhadas e delineadas, que têm atratividade internacional em qualquer país onde forem”, observou.

“E não estou a falar do Comédia à La Carte [o grupo formado por César Mourão, Carlos M. Cunha e Ricardo Peres], que é o mais conhecido, mas não tem uma identidade muito característica. Isto não é uma crítica, mas existem muitos grupos a fazerem espetáculos muito parecidos com os do Comédia à La Carte em muitos lugares do mundo”, sublinhou o ator brasileiro.

Ao invés, Zeca Carvalho destacou grupos como os Improváveis, de Lisboa “e o seu ImproFado”, os Instantâneos, uma companhia de Sintra que tem em Evaristo um espetáculo de teatro do improviso que recua ao Portugal da década de 1940, ou a Bifurcação, também de Sintra, “que trabalha a improvisação para crianças, e isto é muito difícil de se ver”, frisou.

“Estes grupos estão a trabalhar o improviso a um nível de excelência”, adiantou Zeca Carvalho.

“Com toda a certeza, os improvisadores portugueses não sabem o tamanho do seu talento. Muito provavelmente, porque faz parte da identidade nacional portuguesa acreditar que talvez não seja tão competente quanto de facto é, não sei se isto é uma característica geral do povo, nem sei se estou certo, é a minha visão externa”, declarou.

Sobre o público português do teatro do improviso, que é chamado a interagir com os atores, Zeca Carvalho considerou que é “mais retraído e menos expansivo” do que o público brasileiro, refletindo, de algum modo, os “brandos costumes” nacionais.

“E quando o público vai ao encontro dos grupos do teatro de improviso há um efeito absurdo, porque quando o espetador português descobre o tamanho do talento dos improvisadores portugueses, é uma imensa surpresa”, ilustrou.

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