Educação

Bebé não rima com café

Notícias de Coimbra | 11 anos atrás em 20-08-2013

Rodrigo Cunha (1)

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Investigadores da UC integram pesquisa internacional que conclui que o consumo de cafeína durante a gravidez é nocivo. O estudo acaba de ser publicado na Science Translational Medicine.

O consumo de cafeína durante a gravidez é prejudicial ao desenvolvimento do cérebro do bebé, conclui um estudo internacional onde participou uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra (UC), através do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) e das Faculdades de Medicina (FMUC) e de Ciências e Tecnologia (FCTUC).

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A pesquisa, resultante de uma parceria com o Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale — INSERM, da Aix Marseille Université, acaba de ser publicada na prestigiada Science Translational Medicine, do grupo Science (http://stm.sciencemag.org/content/5/197/197ra104), e envolveu ainda cientistas da Alemanha e Croácia.

Sendo a cafeína a substância psicoativa mais consumida no mundo, inclusive durante a gravidez, a equipa avaliou o seu impacto durante o período de gestação e descreveu, pela primeira vez, os efeitos nocivos do consumo de cafeína (em ratinhos fêmeas) durante a gravidez, sobre o cérebro dos seus filhotes. Este trabalho, apesar de realizado em roedores, sugere que devem ser realizados estudos cuidadosos para avaliar as consequências do consumo de cafeína por mulheres grávidas.

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Para avaliar os efeitos da cafeína, os investigadores reproduziram, em ratos fêmeas, o consumo regular de café, em doses equivalentes ao consumo humano de três chávenas de café por dia, durante toda a gestação e até ao desmame das crias.

Os ratinhos jovens «mostraram maior suscetibilidade de desenvolver epilepsia e, quando atingirem a idade adulta, detetámos problemas de memória espacial», explica Rodrigo Cunha, coordenador da equipa portuguesa.

A equipa de investigadores conseguiu identificar o mecanismo responsável pelos efeitos nocivos da cafeína no cérebro em construção. Durante o desenvolvimento, «a cafeína altera a migração e inserção de neurónios que libertam GABA – o principal mediador químico inibidor no cérebro; estes neurónios formam-se numa região particular e depois migram para, entre outros lugares, o hipocampo, uma região do cérebro que desempenha um papel fundamental na formação da memória», descreve Rodrigo Cunha.

A equipa, prossegue o investigador, «constatou que cafeína influencia diretamente a migração destes neurónios, por bloquear a ação de um recetor específico, chamado A2A, diminuindo a velocidade de migração dos neurónios. Assim, as células vão chegar ao seu destino mais tarde do que o previsto. Esta migração tardia afeta a construção do cérebro com efeitos observados após o nascimento (alterações da excitabilidade celular e aumento da suscetibilidade a episódios convulsivos) e, durante a vida adulta, perda de neurónios e défices de memória».

Este estudo «é a primeira demonstração dos efeitos nocivos da exposição à cafeína sobre o cérebro em desenvolvimento e, embora questione o consumo de cafeína por mulheres grávidas, é necessário realçar o cuidado em extrapolar os resultados obtidos em modelos animais para a população humana, sem ter em consideração as diferenças no desenvolvimento do cérebro e da maturação entre as espécies», destaca o investigador da UC.

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