Arqueólogos exigem condições adequadas para salvaguarda do património subaquático

Notícias de Coimbra | 7 anos atrás em 12-10-2017

Os arqueólogos reunidos em Lisboa, relativamente ao “importantíssimo espólio à guarda do Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática” (CNANS), exigem que a tutela tome medidas “para a criação/reposição de todas as condições” adequadas à conservação deste património.

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Cerca de 60 arqueólogos, de diferentes tutelas, da área autárquica às empresas privadas, passando por universidades e a Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), debateram na quarta-feira, em Lisboa, o destino dos espólios arqueológicos, provenientes das diversas escavações, o seu estudo e inventariação.

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O futuro do CNANS foi outro tópico do debate, tendo sido “aprovada por larga maioria, sem votos contra, uma proposta apresentada pela arqueóloga Jacinta Bugalhão”, disse hoje à agência Lusa o catedrático jubilado da Universidade de Coimbra, José d’Encarnação, que moderou o encontro.

Na moção propõe-se “a comunicação às entidades competentes do Ministério da Cultura de um veemente voto de repúdio pelo seu desempenho”, no processo relativo ao CNANS, exigindo a “tomada de medidas imediatas para a criação/reposição de todas as condições que garantam a adequada conservação, estudo e fruição pública do acervo em causa, parcela ímpar do património cultural português”.

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Consideram os arqueólogos “alarmantes” as notícias vindas a público recentemente sobre “a situação de risco em que se encontra o importantíssimo espólio à guarda do CNANS/DGPC, motivada pela conjugação de uma escandalosa insuficiência de meios humanos, técnicos e financeiros ao dispor daquela unidade, com uma gestão incompetente e negligente do processo relativo às suas instalações”.

Em setembro, a DGPC anunciou que o CNANS e o seu património seriam instalados, no próximo ano, num edifício em Xabregas, em Lisboa, depois da realização de obras, estimadas em 1,4 milhões de euros, permitindo a saída deste acervo de um armazém no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), em Loures, onde se encontra desde 2010.

O ministro da Cultura já afirmou que esta solução “preserva e valoriza o património arqueológico, através de um investimento financeiro que dotará o CNANS de instalações de excelência”.

O epigrafista afirmou ainda à Lusa que “foi deveras acutilante a intervenção de Alexandre Monteiro [arqueólogo da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa], relativa à passividade das entidades governamentais perante o continuado saque de mui significativa e avultada riqueza arqueológica proveniente de naufrágios de navios portugueses, levado a efeito por empresas expressamente formadas para a caça ao tesouro”.

José d’Encarnação realçou que “a reflexão feita serviu, de modo especial, para se tomar consciência das dificuldades por que se está a passar no que concerne à devida salvaguarda dos espólios retirados das intervenções arqueológicas, porquanto faltam reservas em condições adequadas para o efeito”.

Os arqueólogos sugeriam, disse, que, “mediante certificação, a obter, por exemplo, através da Rede Portuguesa de Museus, as autarquias possam vir a constituir depósitos do material proveniente do seu território, uma vez que as Direções Regionais de Cultura não vão ter condições de tudo recolher”.

O epigrafista realçou que “tem sido notável, por exemplo, o trabalho levado a efeito em Coimbra, por Eugénia Cunha, no departamento de Antropologia Forense, no que concerne aos depósitos osteológicos, cujo interesse científico se salientou no encontro, pelas relevantes conclusões que a Antropologia Física ora permite alcançar no âmbito do estudo da população em determinada época”.

O debate foi organizado pela Secção de Arqueologia da Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL) e pelo Centro de Arqueologia de Lisboa, sob o tema “Depósitos arqueológicos: património ou lixo?”, e teve lugar na SGL.

 

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