António Manuel Ribeiro falou sobre stalking na Figueira da Foz

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 23-02-2018

Agosto de 1982. Uma miúda de 15 anos assiste, em Sintra, a um concerto dos UHF, e fixa-se no vocalista, António Manuel Ribeiro. 21 anos depois, começa a persegui-lo, envia-lhe milhares de mensagens e e-mails, cria sete heterónimos e usa outros tantos números de telemóvel, faz telefonemas constantes, cobre-lhe o carro de flores roxas, aterroriza todas as mulheres que lhe são próximas, guia em contramão para lhe barrar o caminho, conhece todos os seus passos, as viagens, os quartos de hotel e, num mesmo dia, é capaz de lhe declarar o seu amor eterno, insultá-lo e ameaçá-lo.

PUBLICIDADE

Este ‘inferno’, nas palavras do próprio António Manuel Ribeiro, que durou nove anos e deu origem a três julgamentos e a episódios insólitos no sistema judicial, foi o mote para o livro «És meu, disse ela», escrito pela jornalista Carolina Reis.

DSC_1740 - Daniel Godinho

PUBLICIDADE

publicidade

No Auditório Municipal, António Manuel Ribeiro, falou de stalking, um crime que só em 2005 foi autonomizado no nosso ordenamento jurídico penal.

O Presidente da Autarquia, João Ataíde, e o agente turístico Nuno Furet, conduziram a conversa, que contou ainda com a participação do advogado do cantor, José Gomes Fernandes.

PUBLICIDADE

«Antes deste caso, as mulheres tinham medo e os homens vergonha de denunciar casos de stalking», afirmou António Manuel Ribeiro.

Atualmente, com o número de denúncias a aumentar, confirma-se que, na maior parte dos casos, o stalking acontece entre duas pessoas que tiveram uma relação, cujo fim uma quis e a outra não aceita. «Não foi o meu caso», sublinhou o cantor que agradeceu «aos pais a educação recebida», que o impediu de reagir com violência a todas as agressões sofridas ao longo de quase uma década.

DSC_1740 - Daniel Godinho

«Este livro não pretende ser um novo julgamento, nem uma ‘vendetta’», garantiu o líder dos HUF-

. «Escrevi-o para me libertar mas editei-o para ajudar outras pessoas, para que denunciem se forem vítimas, porque ocultar os factos favorece o agressor e mantém a vítima à sua mercê», acrescentou, «para saberem também como identificar os sinais, distinguir o que é um ato amoroso de uma obsessão que interfere na liberdade do outro, para que saibam, ainda, o que esperar do sistema judicial. É um manual de sobrevivência ao stalking, com valor pedagógico», resumiu, desejando que a sociedade caminhe «para uma modernidade com sanidade mental», com «menos espaço para sociopatias» e, também, que a justiça «funcione sem reservas e em tempo útil».

No caso de António Manuel Ribeiro, a agressora foi condenada a dois anos de pena suspensa e ao pagamento de uma indemnização que ainda está por cumprir porque, «apesar de durante o processo ter trocado de carro três vezes, está indigente», criticou.

«O Direito funciona por reação», afirmou o presidente da Autarquia, João Ataíde, destacando a importância da criação de jurisprudência e da reflexão e debate públicos em situações que são, muitas vezes, fruto de novas realidades e novas ferramentas tecnológicas.

O serão chegou ao fim após um período de debate e a habitual sessão de autógrafos.

A próxima sessão das 5as de Leitura é especial e acontece a 29 de março, assinalando o Dia Mundial da Poesia com a peça «Nome: Natália» e uma tertúlia sobre a poeta Natália Correia com a presença de Fernando Dacosta. A entrada será, como sempre, livre.

Related Images:

PUBLICIDADE

publicidade

PUBLICIDADE