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Saúde

A laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata?

Notícias de Coimbra | 5 anos atrás em 17-03-2019

O médico e professor António Vaz Carneiro propõe desmontar meia centena de mitos ou crenças na saúde, através de um livro que pretende aumentar a literacia e reafirmar a importância do conhecimento com base científica.

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“Mitos e crenças na saúde” reúne um conjunto de artigos que tentam desconstruir de modo simplificado, mas baseado na evidência científica, informações erradas que foram sendo propagadas ou massificadas.

Em entrevista à agência Lusa, o autor considera que o livro é “uma tentativa simples e pouco ambiciosa” de avisar as pessoas que não devem fazer afirmações sobre saúde sem ter uma base científica.

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“Há um problema muito importante neste século XXI. Existe, a nível mundial, uma posição anti-científica, não só no campo da saúde. Veja-se até o caso do Presidente Trump e das alterações climáticas. Se em algumas áreas isso quase pode parecer quase divertido, na saúde pode ter consequências muitíssimo negativas”, argumenta o médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

Alguns dos mitos ou crenças escolhidos por Vaz Carneiro estão mais ligados a temas debatidos ou propagados na atualidade, enquanto outros são intemporais.

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“A laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata” é uma frase que pode ter sido criada ainda no século XIX e que tem sido disseminada ao longo das décadas. Numa pesquisa no Google, produz largas centenas de resultados.

Contudo, toda a base científica mostra que as laranjas podem ser comidas “à vontade, independentemente das horas” do dia.

Apesar de alguns dos mitos serem inofensivos, mesmo em saúde, outros podem conduzir a opções terapêuticas desajustadas ou inúteis.

Um dos exemplos pode ser o do consumo extra de cálcio, em suplementos: “Sabe-se que não se ganha nada em tomar mais do que as quantidades [determinadas] de cálcio; isto é, não se ganha nada em aumentar a sua ingestão”.

Aliás, o livro refere que não há evidência científica de que consumir cálcio extra melhore a saúde óssea. Além disso, haverá que ter em conta os “efeitos adversos” de quem toma cronicamente cálcio extra.

Médico especialista em medicina interna, nefrologia e farmacologia, Vaz Carneiro assegura que todas as questões abordadas na obra se baseiam em estudos de qualidade e em boas bases científicas.

Contudo, reconhece que há uma ou duas abordagens que podem levantar controvérsia entre a comunidade médica ou não colher pelo menos unanimidade.

Uma delas é a desmontagem sobre a crença de que devem fazer-se um ‘check-up’ anual, por ser uma medida preventiva eficaz.

No livro, que será lançado em abril, o autor assume tratar-se de uma crença que está presente mesmo em muitos médicos e profissionais de saúde.

Vaz Carneiro indica que “a evidência científica de excelente qualidade” mostra que esta abordagem “apresenta potenciais problemas”.

“A mensagem parece inequivocamente ser que os ‘check-ups’ não devem ser aconselhados devido à falta de eficácia.

Do consumo de leite, ao consumo de café, passando pela quantidade de água que deve ser ingerida, o livro aborda também temas ligados à gravidez, ao exercício físico, a consumo de álcool ou aos cigarros eletrónicos.

As crenças sobre os médicos não ficaram de fora da obra. Vaz Carneiro considera que as pessoas ainda têm uma imagem de uma profissão compensadora e fácil.

“As pessoas terão pouca noção do que nós fazemos e desconhecem um drama em que os médicos vivem, que é o do ‘burnout’ [cansaço físico extremo, exaustão emocional ou psicológica]“, refere, avisando que não se trata de um problema exclusivamente nacional, mas antes uma questão quase mundial, que afeta vários países.

Aludindo a dados recentes da Ordem dos Médicos, Vaz Carneiro refere que quase metade da classe médica está em ‘burnout’.

“Significa que temos um problema gigante, sendo que os maiores índices de ´burnout’ são entre os 30 e os 45 anos, quando estão no auge da sua profissão. É um problema de uma extraordinária gravidade, porque é crucial que o médico esteja em boa forma para tratar o doente. A qualidade de um ato já não é igual quando se está estoirado”, alerta.

Vaz Carneiro entende que os “médicos não se sabem defender” e trabalham demais. Depois, o sistema induz cada vez mais trabalho e pressão em todos os profissionais, sendo tratados muito mais doentes e mais doenças atualmente do que há 10 ou 20 anos.

“A intensidade da prática clínica subiu exponencialmente”, afirma o autor, que se manifesta “extraordinariamente preocupado” com a questão do ‘burnout’ na saúde.

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