Saúde

“A humanização é um vetor fundamental para a cura do doente” (com vídeo)

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 10-02-2022

A propósito do Dia Mundial do Doente, que se assinala a 11 de fevereiro, o fundador e responsável do projeto H2 – Humanizar o Hospital, criado em 2018 no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), João Pedroso Lima, disse, em entrevista exclusiva ao Notícias de Coimbra, que “a humanização é um vetor fundamental para a cura do doente” e “tem de ser colocada no mesmo patamar de importância que os aspetos técnicos”.

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Sabia que o médico, em média, interrompe o doente ao fim de 18 segundos de consulta? “Não o deixa falar. Nós sabemos que é fundamental deixar falar o doente”, sustenta Pedroso Lima. A estrutura da consulta médica era uma das áreas que estava a ser trabalhada no âmbito do projeto H2 que durou quase três anos mas foi suspenso, de forma abrupta, quando o médico teve de se aposentar por limite de idade, em junho do ano passado.

Acreditando que a situação de aposentado não iria ser impeditiva de continuar a dedicar-se à humanização do CHUC, “pelo contrário”, o especialista em Medicina Nuclear informou o Conselho de Administração da sua disponibilidade. Iria fazê-lo “a título gracioso” só tinha “duas condições: poder ser o coordenador do Gabinete de Humanização (que entretanto foi criado na sequência do projeto H2) e ter da parte do Hospital uma vontade inequívoca de que ficasse”. Mas, o inesperado aconteceu. “Convidaram outra pessoa e portanto as duas condições não foram satisfeitas e tive de me conformar”.

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Depois de mais de 40 anos dedicados ao Hospital e à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, confessa que a decisão lhe trouxe “alguma frustração”, sobretudo porque esperava continuar a implementar “as linhas de atuação iniciais do Projeto H2, e que com a pandemia tiveram de ser redirecionadas”. 

Para Pedroso Lima é imperioso que o caminho da humanização se continue a trilhar. “Não apenas  para honrar um compromisso”, entretanto assumido pelo CHUC, assim como pela maioria dos hospitais portugueses, “mas porque é bom para o Hospital que essas dimensões, que dizem respeito não só às pessoas doentes como também aos profissionais, sejam desenvolvidas”.

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O especialista defende que a humanização que está associada a uma “atitude de cortesia, de empatia e de compaixão tem tradução não só na satisfação de doentes, como na eficácia clínica e até na contração de custos nas práticas hospitalares”.

Para Pedroso Lima, “a gestão hospitalar está muito focada na obtenção de números”, mas a humanização tem de ser “colocada no mesmo patamar de importância que os aspetos técnicos”. O médico acredita que é esse o futuro. “Vamos ser ultrapassados pela tecnologia nalguns aspetos, mas há uma coisa que a tecnologia nunca poderá fazer: comunicar, estar perante o doente, a nossa linguagem verbal e não verbal. Mais tarde ou mais cedo vai-se dar valor à humanização dos cuidados”, preconiza.

O principal objetivo do Projeto H2 foi o de tornar o Hospital “mais humano, ou seja, mais centrado nas pessoas: nas pessoas doentes e naquelas que cuidam das pessoas doentes”. Conseguiu envolver mais de 500 profissionais em formações de comunicação interpessoal e criação de empatia, trabalhar no combate ao ruído no Hospital e convidar embaixadores, como José Cid, André Sardet, Adriana Calcanhoto, entre outros, que ajudaram a espalhar a mensagem. 

Já no contexto de pandemia, em 2020 e 2021, e no sentido de combater o isolamento dos doentes, privados das visitas dos seus familiares, o projeto criou no site institucional do CHUC um mecanismo que permitiu às famílias comunicarem, através de mensagens escritas, com os doentes. Cerca de 300 mensagens e videochamadas foram então realizadas, além de ações de mindfulness online direcionadas aos profissionais de saúde.

O projeto está suspenso e João Pedroso Lima, por este afastamento forçado, perdeu a ligação ao Gabinete de Humanização, mas não ao conceito. “Não deixei de estar ligado à humanização”, diz, contando que se tornou voluntário da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Não vai deixar nunca. 

Veja o direto NDC com a entrevista a João Pedroso Lima:

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