Autárquicas

Livro sobre lousanense João Montenegro que combateu escravatura no Brasil

Notícias de Coimbra | 11 anos atrás em 23-09-2013

Um livro sobre o português João Montenegro, que fundou no século XIX, no Brasil, uma fazenda com mão de obra livre rejeitando a escravatura, vai ser apresentado no dia 25 em São Paulo.

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Natural da Lousã, distrito de Coimbra, João Elisário de Carvalho Montenegro, chegou ao Brasil em 1867, acompanhado de 29 conterrâneos com as quais fundou a colónia Nova Louzã, no município de Espírito Santo do Pinhal, arredores de São Paulo, que produzia sobretudo café.

“O trabalho livre e assalariado e a imigração tornaram-se as suas principais bandeiras de luta, num momento em que imperava o trabalho escravo e o sistema injusto da parceria em que o fazendeiro, após descontar despesas de viagem, alimentação e hospedagem, dividia o lucro com o colono”, declarou hoje à agência Lusa a historiadora brasileira Sónia de Freitas.

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Na época, estando no poder o imperador D. Pedro II, o colono “era obrigado a consumir mercadorias do armazém do próprio fazendeiro, que praticava preços mais altos” que os do mercado.

Os apoiantes da monarquia “defendiam a escravidão, o latifúndio e as benesses do poder”, disse a autora, realçando que o Comendador Montenegro “enfrentou a resistência daqueles que viam as suas ideias como modernas e utópicas” no Brasil do século XIX.

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“Ele fez dos jornais a sua tribuna e começou a ganhar adeptos. O movimento antiesclavagista cresceu, ganhou apoio de intelectuais, civis e militares”, referiu.

Em 1888, foi abolida a escravatura no Brasil, tendo a monarquia dado lugar à República no ano seguinte.

“O que mais me surpreendeu, além das iniciativas de beneficência em Portugal e no Brasil, foram as suas ideias em termos de cultura, humanismo, justiça social e igualdade de direitos”, afirmou Sónia de Freitas.

Ao contrário de dois dos seus irmãos, que estudaram na Universidade de Coimbra, João Montenegro era um autodidata.

“Culto, leitor voraz, escrevia artigos para jornais defendendo as suas ideias e era amigo de expressivos escritores e intelectuais”, acrescentou. Em 1875, Nova Louzã já tinha 100 mil pés de café.

“Também se produzia milho, feijão, arroz, cevada, centeio, trigo e frutas, especialmente uva”, segundo a historiadora, que iniciou em 2001 a investigação desta experiência inovadora no domínio das relações de trabalho no Brasil.

Sónia de Freitas publica agora o seu sétimo livro, intitulado “Vida e obra do Comendador Montenegro – Um lousanense visionário no Brasil”.

Montenegro perderia Nova Louzã devido a dívidas. Na Lousã, foi o principal impulsionador do Hospital de São João.

O benemérito, com ideais democráticos e humanistas, morreu em 1915.

Após a crise de 1929, a colónia também cultivou cana-de-açúcar, pertencendo hoje a uma indústria de celulose. Está desativada a ferrovia de Espírito Santo do Pinhal, em cuja construção Montenegro se empenhou.

Doutorada em História Social, Sónia de Freitas trabalhou como investigadora e curadora no Museu da Imagem e do Som e no Museu da Imigração, em São Paulo. É membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

A apresentação da obra será na quarta-feira, às 19:30 (hora do Brasil), na Casa de Portugal de São Paulo. Sessão idêntica deverá realizar-se na Lousã, em data a definir.

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